A opinião de ...

A ignorância faz mal aos democratas

Hoje, haveria mais dois assuntos para tratar: o Censo 2021 e o desrespeito pelos direitos humanos em Portugal, país cujo Presidente quis dar lições sobre aqueles aos outros omitindo o que se passa em casa no trabalho escravo e nos maus tratos às mulheres. Ficará para outra oportunidade. Escreverei então sobre a efeméride só evocada pelos IL e Chega e, envergonhadamente, pelo PPD/PSD: o 25 de Novembro de 1975.
Passaram 47 anos, quase duas gerações e os novos políticos do PS e do PSD mal conhecem a data. Sem história feita sobre os acontecimento relativos àquele período e sem que os mesmos sejam ensinados nas escolas, é natural que os democratas esqueçam ou ignorem o que esteve em jogo.
Em jogo, e frente a frente estiveram dois projectos político-sociais: um, de carácter totalitário e estalinista, o chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso), protagonizado pelo PCP (Partido Comunista Português) e por movimentos da Extrema-Esquerda como as Brigadas Revolucionárias e outros grupos extremistas; e outro, de carácter democrático-liberal, protagonizado pelo chamado Grupo dos Nove porque constituído por nove militares de Abril que se assumiram contra o primeiro projecto, e onde pontificava o Major Melo Antunes que, desde Julho de 1975, foram apoiados por um movimento de base popular, qual «Maria da Fonte», iniciado no Norte do país e propalado ao restante território, a partir de Agosto de 1975.
O facto de este movimento popular se ter manifestado através de reacções violentas contra o PCP, designadamente assaltos e incêndios das sedes daquele partido levou a que o movimento tenha sido apelidado como «movimento de direita extremista e reaccionária» e os dirigentes do PS (Partido Socialista) cedo se demarcaram de acções violentas encetando todavia, sobretudo por parte de Mário Soares, uma acção política dura contra o PCP, a partir de então. A este movimento de acção política contra o PCP juntou-se, a partir de Setembro, também o PPD, actual PSD, através de Francisco Sá Carneiro e o CDS, a partir de Outubro.
O Grupo dos Nove teve então de se demarcar tanto do PCP como do movimento popular e constituir uma terceira via. No entanto, o movimento empurrou os líderes democráticos para uma acção determinada e concertada contra o Partido Comunista. Não foi fácil porque o PCP dominava a sociedade civil, o aparelho de Estado e quase 50% da estrutura militar.
Fruto de muita paciência e discrição, lá se conseguiu colocar uma «casca de banana» debaixo dos pés do PCP e das suas alas civil, militar e revolucionária conduzindo-as para uma tentativa de golpe de Estado contra presumidos atacantes da «revolução».
O então Presidente da República, General Costa Gomes, coordenou as respostas militares a esta tentativa de golpe e não houve guerra civil muito também porque a União Soviética, através do seu Presidente Leonid Brezhnev, mandou Álvaro Cunhal retirar o PCP do golpe porque «não queria uma guerra com a NATO no seio desta».
A ignorância dos factos não aproveita a ninguém e aqui fica a demonstração de que o 25 de Novembro de 1975 não foi uma acção da direita extremista mas sim dos social-democratas. Foi o resgate do 25 de Abril. Por acção dos militares democratas e por omissão dos militares revolucionários, sob ordens de Moscovo.

Edição
3912

Assinaturas MDB