A opinião de ...

Mentes delirantes

As nossas elites políticas, as do poder governante e as do poder oponente parecem estar doentes, em delírio obsessivo, vivendo e falando completamente fora da realidade. Vou explicar estes meus juízos a partir dos números da execução orçamental de 2013 comparada com as de 2012 e de 2010.
O governo clama vitória ao conseguir tornar úteis os sacrifícios que infligiu a todos os portugueses mas, principalmente, a 284 mil pensionistas e funcionários públicos, sacrifícios que alargou, para 2014, a mais 162 mil dos mesmos sectores e a ainda a mais um milhão relativamente aos aumentos de 2% no imposto para a ADSE.
Olhada a execução orçamental de 2013, publicada no dia 23 de Janeiro pelo Governo, e a proposta de orçamento para 2014, e comparando-a com a dos anos anteriores, verifica-se que o défice público final, face a 2012, só foi reduzido em 1,748 mil milhões (mM) de euros (1% do PIB), apesar da privatização dos CTT, da componente de seguros da CGA e de outras instituições menores, mas que, face a 2010, já foi reduzido em 10mM, de 17mM para 7,151mM, numa despesa global de 80mM, em 2013, contra 89mM de euros, em 2010, e numa receita de 72mM de euros, em 2010, contra 72,8mM, em 2013.
Olhada ainda a execução, a nível da relação receita-despesa, em 2012 e em 2013, verificamos que aquela redução não aconteceu tanto porque se tenha reduzido a despesa mas porque houve um aumento brutal da receita dos impostos, o que, no caso do IRS, atingiu os 35%. Ou seja, só há um resultado final de um défice de 7,151 mM de euros porque, relativamente a 2012, a receita aumentou 5,2mM de euros para 72,8mM mas a despesa também subiu 2,5mM, para 80mM de euros.
De que pode vangloriar-se então o governo quando teve de esganar uma boa parte dos portugueses e do seu património para conseguir um resultado tão limitado (-7,151mM), que, adicionado aos comummente aceites 12,5mM de euros pagos em austeridade (mais impostos e cortes), enviariam a nossa receita arrecadada para apenas 60,3mM de euros contra uma despesa de 80 mM?, agravando para 25% a relação de 19% entre défice e despesa, havida em 2010?
De pouco. Mas, mesmo assim, de ter, em três anos (2011-2013), baixado a despesa em 12,5mM de euros (9mM em despesa e 3,5mM em novos juros e amortização de dívida) embora só conseguindo manter a receita à custa de mais e mais impostos, cortes e contribuições extraordinárias de solidariedade, o conjunto dos quais cobre a perda de receitas havidas, naquele montante.
O estado de delírio de governantes e oposicionistas impede-os assim de verem que o país está a gastar mais 19,6mM de euros do que devia. Este número resulta dos 7,15mM de défice adicionados de 12,5mM em impostos e cortes a mais. Os governantes não vêem por umas razões, os oposicionistas, por outras, mas, ambos os grupos, por grave distorção da realidade.
Para bem pouco serviram os sacrifícios porque, se os não tivesse havido, o Estado arrecadaria, ao menos, metade dos 12,5 mM em impostos, a partir da circulação do dinheiro na economia. Algo está errado!

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