A opinião de ...

O advento da Direita

Cinquenta anos depois do movimento do New Right (1965), nos EUA, que, por oposição ao New Left (1962) modernizou a Direita, conciliando-a com a democracia liberal, embora mantendo os valores culturais e sociais da tradição liberal americana, a Direita portuguesa moderna, não-salazarista e que concorda com o 25 de Abril, começa a afirmar-se em Portugal pela voz de historiadores, intelectuais e, até, de jornalistas.
Estou a falar de uma Direita que aceita as regras do jogo democrático mas que defende alguns valores do liberalismo como: a livre concorrência económica, a estabilização dos valores sociais, culturais e educacionais, a transformação das instituições por via reformista e incrementalista, o apoio aos mais necessitados e releva a ordem social e a hierarquia social com base no mérito académico e no valor económico pessoal ou empresarial conquistado. Em suma, uma Direita Social com aspectos de Liberalismo Social e de Democracia Cristã.
Porquê, em Portugal, só agora aparecer a Direita com fundamento teórico? Primeiro, porque os portugueses começam a ficar fartos dos excessos e incompetências dos partidos da Esquerda, dominantes, por via administrativa autoritária e usurpadora, desde o 25 de Abril de 1974, desde os de Extrema-Esquerda ao PSD. De fora, só ficou o CDS, que não conseguiu ser nem Democracia Cristã nem de Direita e que, por isso, não agregou a si os partidários desta ideologia, também porque os seus fundadores eram membros do Regime Marcelista ao contrário dos do PSD, que eram opositores àquele regime e, por isso, vistos como socialistas moderados ou sociais-democratas, agregando a maior parte dos indivíduos de Direita, em Portugal.
As causas para esta confusão não são só as ideológicas, construídas pela legitimação que a comunicação social fez da Esquerda como se houvesse um pensamento único, o que é normal porque uma educação autoritária produz inevitavelmente, uma acção autoritária. Existe outra causa, só referida pelos especialistas da Sociologia Política e que é o facto de Salazar ter secado toda a produção teórica política, tanto a de Esquerda como a de Direita. E, tal como ele afirmou num discurso, em 1966, que aconteceria, quando se deu o 25 de Abril, só houve a Esquerda Maoísta, Trotskysta e Comunista porque era a única que estava organizada mas também, e infelizmente, sustentada por bases teóricas erróneas, mal assimiladas e desprovistas de suporte cultural, sociológico e político.
Apesar de 40 anos de dominação ideológica e política, em Portugal, a Esquerda portuguesa não conseguiu adaptar-se às circunstâncias do mundo actual, mergulhando num vazio teórico e capitulando na vertente prática, ao agir como se de um movimento liberal-social se tratasse, ocupando assim parte do espaço da Direita.
O movimento intelectual da Direita só começou, em Portugal, no início dos anos 90, com os ataques de Paulo Portas (o anterior ao do CDS-PP) e de Miguel Esteves Cardoso, no Jornal Independente, à social-democracia de Cavaco Silva e teve em Jaime Nogueira Pinto o único intelectual consistentemente assumido, tanto no regime marcelista como depois. Porém, desde há um ano, o historiador João Pereira Coutinho vem fazendo a história e a sustentação teórica da Direita Portuguesa. Vale a pena ler Conservadorismo para que não se passe tão depressa à legitimação leviana das ideias da Direita como, há 40 anos, se sustentaram as da Esquerda.

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3478

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