A opinião de ...

Um brazão de ouro adulterado

No próximo dia 20 de Fevereiro, vai a Assembleia Municipal de Bragança, órgão máximo do Município, através da Câmara Municipal do mesmo, em sessão solene, homenagear e agraciar António Jorge Nunes, ex-Presidente da mesma Câmara (08-01-1998 a 13-10-2014), ao longo de 16 anos e quatro mandatos, com a medalha «Brazão de Ouro do Município».
Nada temos contra esta homenagem e agraciamento, antes os subscrevemos por inteiro, tanto pelos méritos pessoais de Jorge Nunes como Presidente e Gestor Municipal como pelas obras realizadas e afirmação municipal e regional conseguidas para o município de Bragança.
Mas, então, por que nos abstivemos, nós e o Grupo Municipal Movimento Sempre Presente na votação havida na Assembleia Municipal, no passado dia 4? A razão é simples: a Câmara Municipal, de maioria PSD, não cuidou de elaborar uma proposta coordenada com a Oposição para ser votada por unanimidade, e o texto de fundamentação da condecoração, acaba por ser um elogio ao PSD e pouco ao autarca.
É consabido que manda a ação política que as oposições não votem favoravelmente atos de louvor aos partidos oponentes, podendo, porém, abster-se. O mesmo não acontece se estiverem em causa pessoas, desde que em termos negociados entre as partes envolvidas. O PSD quis fazer as coisas à sua maneira mas prestou um mau serviço a Jorge Nunes. Podia ter tido o reconhecimento de todas as forças políticas. Ele bem o merece.
O gesto do PSD é tão estranho quanto, na sessão de Fevereiro de 1998, votou contra uma moção em que eu propunha um voto de louvor e a condecoração de José Luís Pinheiro, então ex-Presidente, e o primeiro presidente, durante 14 anos, no pós-25 de Abril. Na altura, o PSD argumentou que era muito cedo para falar em louvores e condecorações.
Recorde-se que o PSD havia perdido as eleições para o PS. José Luís Pinheiro havia acabado de fazer uma «traição» ao seu CDS, partido pelo qual foi candidato durante 10 anos, candidatando-se, em Dezembro de 1989, pelo PSD. Tinha praticado esta «traição» em nome da razão política prática pois anunciava-se que o PSD iria ser Governo Nacional por muitos anos, tendo obtido maioria absoluta em 1987, renovando-a em 1991, e só sendo apeado em Setembro de 1995, pelo PS, após uma grave crise económica e financeira, entre 1992 e 1993, pela qual o défice chegou a atingir os 9,3%, em 1993.
José Luís Pinheiro tinha sido um excelente Presidente porque foi o visionário, o lançador do futuro de Bragança e, até, o iniciador cultural, vertente pela qual Jorge Nunes é agora mais evocado. E esta tendência dos partidos políticos para fabricarem os seus ídolos, independentemente do património económico, social e cultural da sua comunidade, é não só contraditória como nefasta para a coesão social e cultural e para o imaginário comum.
Jorge Nunes foi assim glória e vítima da luta política do seu partido. A ideia de esmagar os outros é sempre má conselheira. Mas nós separamos a política das pessoas e admiramos Jorge Nunes pela sua competência técnica e gestionária, pela sua visão estratégica e pela sua determinação social. A medalha é inteiramente merecida. Honra e louvor ao homenageando.

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