A opinião de ...

Vai Passos mas inSeguro

O Congresso do PSD pareceu ter corrido bem. Se pareceu ter corrido, correu, porque, em política, é essencial parecer. O melhor é ser e parecer mas, não podendo ser, que possa parecer. O parecer sendo, garante o futuro, o parecer não sendo, ilude o presente.
Pedro Passos Coelho viu as delícias do poder fazerem aproximar os críticos e os comentadores, exceto José Pacheco Pereira e Marques Mendes. Este, porque não pôde; aquele, porque está contra tudo e contra todos e o próximo passo poderá ser o suicídio. Tem razão em mais de 50% do que diz e escreve mas o modo como diz e escreve revela um insustentável equilíbrio entre a emoção e a razão. Temo pelo futuro de um intelectual com craveira.
No Congresso, o PSD fez a festa do Poder e a celebração da cola que o Poder gera dentro dos partidos, quando exercem o Poder. De qualquer forma, o PSD parece ter mais garra e mais pluralismo interno do que o PS, ainda que haja contradições que não se entendem: o aparecimento prematuro de Miguel Relvas e o pedido de perdão do filho pródigo Luís Filipe Meneses. Miguel Relvas foi recuperado pelo Presidente do PSD, o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho. Foi um passo muito arriscado do Primeiro-Ministro e Presidente do PSD. Perdeu muitos votos com isso mas revelou que não deixa cair os amigos, tenham eles feito as sacanices que tenham feito. É assim o Poder e a sua liturgia: não prescinde de algumas encenações de amor, amizade, fé e ódio cordial. Razão tinha António Capucho, o dissidente expulso: os congressos são missas, chatas mas regeneradoras.
À boleia das palavras de Capucho, Marcelo Rebelo de Sousa lá esteve, pronto para ser candidato a Belém, do Tejo, porque a de Nazareth fica muito mais longe. É um homem interessante mas já passoto para congressos. Talvez uma ocupação de cortador de fitas e de inaugurador de fontes lhe fique bem.
Falta agora a Pedro Passos Coelho convencer António José Seguro da necessidade de um entendimento cautelar. Não para um programa cautelar mas que o evite. Quanto mais tarde, mais difícil será para ambos qualquer entendimento. Agora, em Maio, vêm aí as eleições para o Parlamento Europeu e um ano depois, as eleições para o Parlamento Português. Os discursos começam a inflamar-se e a libido do poder a incendiar-se. O nubível Seguro foi substituído pelo nubente Paulo Portas mas o amor de Seguro seria muito mais eficaz, convincente e saudável.
A verdade é que Seguro se fechou em copas. Em vez de agir, reage. Em vez de propor, contrapõe. Parece só mas não descrente. Sacou da cartola um bom candidato a Bruxelas, Francisco Assis, nome que está na moda. Se ganhar o Poder, terá todas as araras do PS com ele. Se o perder, será devorado por elas. Os socialistas parecem ser assim: pouco aguerridos, pouco esclarecidos mas muito avaros e ciumentos. O país precisa que mudem para melhor. É preciso dar-lhes tempo.

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