A opinião de ...

Jornalismo e Democracia

Vivemos, em Portugal e no mundo, tempos não muito fáceis e incertos para o jornalismo e, diga-se, para quem faz desta a sua profissão e, já agora também, a sua missão de vida.
Constatamo-lo enquanto cidadãos e enquanto clientes e consumidores de imprensa.
São elucidativos exemplos como a proibição e banimento de alguns meios de comunicação social, especialmente em regimes autoritários (como o russo) e o controlo por parte de grupos financeiros e políticos de diferentes publicações, impondo as suas agendas próprias que ao arrepio ético muitas redações acatam, em subserviência aos ditames de interesses e a fuga à regra de que se o jornalismo incomoda o Poder, o jornalismo está a fazer alguma coisa bem do que é o seu trabalho.
Temos vindo a presenciar, talvez agravado pela crise económica das empresas jornalísticas e o aumento da concorrência, uma degradação deontológica na comunicação social nacional.
Esta degradação evidencia uma tendência de misturar a informação, que se quer séria, verdadeira e rigorosa, com entretenimento e o espetáculo. Uma tendência para o sensacionalismo, do buscar, por um lado, os “famosos” e, por outro a tragédia como espetáculo, do que pode chocar as pessoas.
Quase se poderia dizer que estamos a assistir a algum vale tudo para ganhar audiências e consumidores.
Até os jornais ditos de qualidade e referência em Portugal têm perdido o seu perfil e titubeado no seu rumo. Será pelas dívidas astronómicas, pelo prejuízo que vão acumulando, pelos “favores” a que estão sujeitados?
Por isso, muitos leitores, muitos ouvintes, muitos espetadores pura e simplesmente se desligam, para não se incomodarem.
E os jornalistas, e nós conhecemos alguns que são dedicados e rigorosos com a sua profissão, aqueles que sentem e vivem com dignidade a sua profissão, que responsabilidade têm para mudar radicalmente este estado de coisas?
Contudo, também a cidadania, todos nós, precisamos de informação livre e, por ela, de acesso à verdade, qualquer que ela seja e não às verdades que se querem impor e ao politicamente correto.
Está também nas nossas mãos lutar por isso pois sem jornalismo livre, responsável e verdadeiro não há Democracia (neste sentido, a ideia de maior atenção e apoio aos jornais e imprensa regional não é despicienda).
Por um jornalismo que procura ser objetivo, dar notícias verdadeiras e que fundamenta as opiniões que emite, em observância a uma escala de valores.
O jornalismo precisa de valores! Precisa de estar ao serviço da dignidade da pessoa e do bem-comum.
A solução está assim também do lado da procura, rejeitando quaisquer tentações censórias, mas fazendo caminho de escolha e seleção, de acordo com critérios de consciência e de valores, do material informativo no quadro de uma oferta plural.

Edição
3993

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