CHEGARÁ?
A notícia do Mensageiro é clara: Hernâni Dias e Nuno Gonçalves suspenderam o mandato para decidirem depois se renunciam ao mandato de autarca ou de deputado, caso sejam eleitos. A pergunta é óbvia: que razão levou o cabeça de lista a adiar uma decisão que se sabe já qual será e, não o fazendo agora, fragiliza a candidatura que lidera? E a resposta é simples: Hernâni Dias não renunciou já ao mandato para não evidenciar a diferença de posição, atitude e empenho de quem o secunda. Nuno Gonçalves apenas está disponível para suspender o seu mandato… porque tem medo!
O autossuspenso Presidente da Câmara de Moncorvo não acredita na sua eleição para deputado e não quer perder o lugar, mesmo tendo de o deixar, em menos de dois anos. Apesar da tentativa grotesca de querer lançar areia para os olhos dos eleitores (e opositores) pedindo aos serviços que tratassem da portabilidade do número de telefone e da transferência de propriedade do aparelho. Podendo fazê-lo mais tarde porque o fez agora e lhe deu tanta publicidade? Apenas para tentar enganar quem não pode deixar de olhar para lá das a aparências e descobre por detrás da real ambição de se afastar da liderança do município… o receio de não obter a confiança eleitoral necessária para concretizar tal desiderato.
Com exceção do último sufrágio, nas condições conhecidas (António Costa em alta, PSD e CDS desavindos), o segundo lugar nas listas sociais democratas sempre foi, à partida, um dado adquirido, confirmado nas urnas. Com a Costa fora da corrida, com o CDS coligado ao seu natural parceiro político e com grande potencial de queixa, na agricultura, na saúde, na educação, nas forças de segurança e, também, na habitação, não há razão que possa justificar a não recuperação do segundo lugar dos três que, em S. Bento, cabem ao distrito de Bragança.
Estas condições, apesar de muito favoráveis, facilitando, não garantem que o natural objetivo da AD seja, só por si, concretizável. É necessário que quem protagoniza a candidatura, faça o seu trabalho e seja capaz de convencer os eleitores a votarem em si, como legítimo defensor da região e dos seus habitantes. Porém, como pode alguém pedir a confiança de terceiros para uma solução em que nem o próprio é capaz de apostar, incondicionalmente?
Numa altura em que o populismo da insinuação, das promessas fáceis e dos compromissos que se sabe não serem para cumprir ganham terreno e têm habilidoso intérprete seria bom que quem pretende recuperar o prestígio e influência percebesse que um bilhete para a capital exige muito mais que uma caminhada para o Largo Campos Monteiro. Meias-verdades, algumas dissimulações, fugas à confrontação (“para falar consigo tem de desligar o gravador!”) podem ser compensadas com pequenas benesses, promessas de emprego, aquisições por adjudicação direta e outros favorzinhos… no concelho mas, dificilmente ultrapassará as fronteiras municipais.
Para completar o cenário, no preciso momento em que escrevo este texto, visitando as páginas da internet dos dois municípios verifico que na de Bragança no lugar de Presidente está já Paulo Xavier enquanto que na de Moncorvo se mantém ainda Nuno Gonçalves. Tal atitude de quem querendo sair, não fecha a porta, subalterniza e menoriza quem se dispôs cobrir-lhe a retirada. Já se sabia que há políticos que por simples afirmação pessoal hostilizam os que desinteressadamente os ajudaram e apoiaram, quando foi preciso. Ficamos a saber que não hesitam em sacrificar, se tal lhes aprouver, os mais fiéis e servis seguidores.