A opinião de ...

A LISTA, O PERFIL E OS PERFILADOS

Interrogo-me se, nos tempos que correm, não haverá uma inversão de valores, em que se troca o essencial pelo acessório, se discute o pormenor esquecendo o substancial. Comecemos pela famosa Lista Vip dos contribuintes cujo acesso por parte dos funcionários das finanças despoletaria um procedimento de alerta, em tempo real. Obviamente que os contribuintes são todos iguais e todos têm direito a igual tratamento por parte da Autoridade Fiscal. Mas, em boa verdade, não é de tratamento discriminatório que se trata. Se não vejamos: essa lista destinava-se a dar tratamento de favor a alguém? A diminuir-lhe os deveres perante o Estado? A proporcionar-lhe, na prática, algum tipo de desconto ou de perdão fiscal por a ela pertencer? Não. Em boa verdade o que se pretendia era proteger os cidadãos de uma prática, censurável, de alguns funcionários do ministério das Finanças de, por mera curiosidade, por sua alta recreação, por qualquer outra razão, diversa da sua normal atividade profissional, acederem aos dados fiscais de alguns contribuintes. Isso, sim, um grave atentado ao consagrado direito ao sigilo fiscal que todos os cidadãos têm. E ninguém se indigna! Ninguém questiona! O Presidente do Sindicato, em vez de explicar qual a razão e motivo que leva alguns dos trabalhadores a violarem toscamente a lei e a ética profissional, vem bradar aos céus que há uma lista VIP e arroga-se no direito de “exigir” a demissão de um governante! E sobre o comportamento voyeurista dos seus camarads, nada diz, nada comenta, nada lhe importa!
Quanto à lista. Vejamos com cuidado o que está em jogo. A direção do Serviço de Finanças entendeu e bem, que o comportamento de intrusão sem razão nas contas dos contribuintes tinha de ser fiscalizada e controlada. Para isso estava a planear um sistema de alerta em tempo real, porque as inspeções à posterori não produziam os resultados esperados porque já tinha sido verificado que esses acessos eram feitos com nomes de utentes e palavras-chave diferentes das dos verdadeiros utilizadores. Como não seria possível colocar alertas em todos os acessos, isso paralizaria todo o trabalho em curso, houve necessidade de selecionar acessos que denunciassem os prevaricadores. Quais? Obviamente que os dos altos dirigentes e pessoas importantes. São esses que despertam, por uma razão ou por outra, a “curiosidade” dos funcionários. Chamou-se-lhe lista VIP. Erradamente! Todos os contribuintes devem estar protegidos. De igual forma. Mas o principal erro e aquele que tem de ser combatido, de forma eficaz, é o acesso ilegal!
 
Cavaco Silva decidiu definir o perfil do seu sucessor. E daí? Porquê tanto burburinho? O seu sucessor não é indicado por ele. O seu sucessor é escolhido pelo povo português. É a este que cabe escolher o perfil adequado. Cavaco Silva, na altura da escolha do novo inquilino, não passa de um eleitor como outro qualquer. Nada mais que isso. Não entendo o burburinho causado à volta da sua opinião. O que é espantoso é que haja logo quem venha vestir a pele do “indigitado” assegurando rever-se na definição presidencial. E isso sim, é extraordinário! Então alguém que acalente a esperança de ser eleito vai correr a identificar-se com a imagem que um único eleitor faz do presidente perfeito? Não é à maioria dos eleitores que ele deve aparecer como o cidadão mais adequado, para as funções a que se candidata. Uma opinião é apenas uma opinião. Mesmo ocupando o cargo que ocupa é bom não esquecer que, nos tempos que correm são já mais os que desaprovam a sua forma de agir e pensar que os que a aprovam. Sendo assim...

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