A opinião de ...

O politico e o empresário (Realidade e demagogia)

Conheci pessoalmente Fortunato Frederico há quinze anos. Homem simples, de trato afável, poucas palavras mas para cujas perguntas, aparentemente ingénuas e superficiais, não era fácil encontrar respostas. Era um homem muito considerado pelos seus pares que o têm reconduzido sucessivamente à frente da APICCAPS.
Esta semana o Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional vem explicar (consta que com ar sério e sem se rir!) e defender que os funcionários públicos poderão (deverão?) reduzir o horário de trabalho reduzindo (obviamente???) o salário mensal.
 Nesta mesma semana, Frederico Fortunato, entrevista ao semanário Expresso vem dizer algo simples mas que atinge uma profundidade que mestre e doutorando Pedro Lomba não consegue sequer aproximar-se. No tempo de crise que passamos, segundo o dono da Kyaia (e da Fly London, entre outras) o aumento do salário mínimo pode acrescentar dificuldades a algumas empresas condenando-as à falência. É certo que não será o caso para muitas delas e que alguns empresários se aproveitam dos tempos difícieis que nos assolam para restringirem os custos com pessoal para além do razoável. Mas também é certo que num ambiente em que todos os dias há empresas a falirem facilmente se compreende que algumas delas (muitas, infelizmente) estejam de tal forma fragilizadas e em situação crítica que qualquer aumento de custo pode ser um golpe fatal. Contudo, para essa mesma empresa, se o custo não lhe fosse fatal, o aumento do salário dos trabalhadores poderia ajudá-la muito (em situação crítica, tal como um pequeno custo adicional pode ser fatal, um pequeno acréscimo pode ser um autêntico maná) por aumentar o poder de compra dos trabalhadores em geral que serão, potencialmente, clientes de qualquer empresa. Como desatar então este nó? Com simplicidade, mas com um conhecimento profundo (que os estudos de mestrado ou de doutoramento, nunca revelaram a Pedro Lomba), Frederico Fortunato expressa-a clara e cristalinamente: é possível aumentar o salário mínimo se os trabalhadores aceitarem trabalhar mais uma hora por dia.
Contrariamente ao governante, o empresário sabe muito bem que o problema de quem ganha o salário mínimo não é o preço unitário do seu trabalho que está em causa. O que está em causa, na maioria dos casos é que o valor líquido que lhes é entregue ao fim de cada mês não chega para todas as necessidades e o que precisa é que esse valor suba. Seja como for! Já para um empresário em dificuldade pagar mais não pode ser problema se a esse acréscimo corresponder um aumento do valor recebido. Então porque é que esta solução simples e boa para ambos os verdadeiramente interessados não é implementada já nos casos em que possa sê-lo, mesmo que provisoriamente? Porque do outro lado da barricada dos governantes não estão os trabalhadores mas os sindicatos e não se vê, destes, nenhuma abertura séria a soluções deste tipo.
É certo que não se pode deixar a negociação salarial ser feita diretamente entre patrões e assalariados por causa da enorme diferença de poder negocial. Mas não poderiam os negociadores ouvi-los sobre temas tão importantes e definitivos como quando em cima da mesa está o tema da sobrevivência. Sobrevivência de empresas em dificuldades mas também de famílias no limiar da pobreza!

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