A opinião de ...

Emigração

Por todos sabido, é extensa a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – tão grande que está espalhada pelos cinco continentes. Foi neles que os nossos emigrantes encontraram a melhor forma de vida, contrariamente às graves dificuldades que sentiram para conseguirem uma digna sobrevivência no seu país. E é esta Comunidade que levou e continua a levar a todos os cantos da Terra o conhecimento, a cultura, os costumes e os hábitos de Portugal.
Sobretudo, são os emigrados na Europa que mantêm as suas férias em agosto, depois de um ano de labuta e de saudade. Vêm da França, da Alemanha, da Inglaterra, da Suíça, do Luxemburgo, da Bélgica, da Holanda…
Porque é aqui que têm as suas raízes, também é aqui que cada um vem matar saudades da sua terra, da sua família e dos seus amigos, agradecer ao santo da sua devoção a proteção que lhe deu naquele ano de trabalho e, ao mesmo tempo, rogar-lhe igual proteção para o ano que vem, sem deixar de cumprir as promessas que durante o ano foram feitas.
Povo trabalhador, habituado ao cumprimento das suas obrigações, e na maior parte, habituado ao trabalho duro, não vacila perante qualquer obstáculo que se coloque no seu caminho, se a caminhada consiste na perseguição de qualquer pensado objetivo a alcançar. Resistente a toda adversidade e humilhação, consegue contornar, muitas vezes com paciência e sacrifício, aquelas situações imprevistas caraterizadas pelo desânimo que o quer diminuir e levar a desistir.
Contudo, ao rever a situação que o levou a emigrar, mais força consegue reunir para um dia poder regressar, depois de alcançar o patamar seguro em que a sua vida e a vida da sua família seja feliz no merecido conforto do lar.
Há quem queira ficar no estrangeiro, sobretudo pelos filhos que aí nasceram, foram criados e educados – livres das agruras pelas quais aqueles passaram. Mas outros querem regressar! Porque a vida lhes foi propícia a arrecadarem um bom pecúlio, voltam, sobretudo com a intenção de perdoar: perdoar ao cantinho que os viu nascer e, embora querendo, não conseguiu mantê-los, enquanto este agradece o seu regresso, ao mesmo tempo que igualmente lhes pede perdão por obrigá-los a partir.
É neste perdão que vão sentir-se revigorados e determinados a acariciar cada torrão que foi deixado à sua sorte (contudo sempre lembrado na pobreza em que ficou), para o transformarem num lugar agradável, produtivo e reconfortante, no qual sempre pensaram acabar os seus dias, na paz e no descanso que há de proporcionar-lhes.
A árvore que nele foi plantada já cresceu, deu flor e está carregada de frutos. Ao seu lado, no inverno, o calor da lareira aquecerá a casa; e, no verão, e mesma casa irá beneficiar da sua refrescante sombra.
É nesta situação que terão oportunidade de, com a sua vontade e necessidade de serem úteis, hão de levar o progresso e a prosperidade à terra que pouco lhes pertenceu; mas à qual, sem quaisquer reticências e reservas, darão a conhecer a experiência por que passaram. Ela constituirá grande motivação para que todos, num esforço conjunto, façam do seu um lugar produtivo e de agradável acolhimento para que o seu saber e os seus braços, em vez de enriquecerem o estrangeiro, consigam enriquecer o próprio país.

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