A opinião de ...

Os Aeródromos Regionais e os interesses que se sobrepõem

 
Costuma-se contar a piada do indivíduo que compra um “barco”: o dia em que o compra – porque está feliz pela aquisição – e o dia que o vende – porque está feliz por se ver livre dele!
De certo modo, o mesmo se passa em relação aos aeródromos. Um aeródromo é sempre uma infra-estrutura muito desejada pelas populações, até terem de suportar os custos do seu funcionamento.
Quem anda nestas andanças, verifica que há aeródromos completamente desertos tanto aos dias de semana como mesmo nos fins-de-semana.
Dos 122 aeródromos da rede secundária nacional existentes em Portugal Continental chegámos às seguintes conclusões:
Dezasseis são municipais (Braga, Bragança, Cascais, Chaves, Coimbra, Covilhã, Espinho, Évora, lagos, Monfortinho, Ponte de Sor, Portimão, Santa Cruz, Vila Real e Viseu). Os restantes são privados. Do total, apenas seis têm ajudas-rádio (Bragança, Cascais, Coimbra, Évora, Vila Real e Viseu), mas destes seis, somente Cascais podem operar voos por instrumentos, com aproximações de não-precisão; nenhuns têm sistemas de aproximação de precisão.
O utilizador que voa primariamente ao fim de semana não precisará de aeródromos com ILS (Instrument Landing System = Sistema de Aterragem por Instrumentos); a maioria nem tem esses equipamentos e voa com o tempo. Mesmo que os tivesse, grande parte dos pilotos privados não têm qualificações de voo por instrumentos. O que eles gostam é de fazer os seus passeios voando, e de pararem aqui e ali para almoçar e conviver. È esse o objectivo: fazer uns voos e divertirem-se. Não havendo nada de apelativo – bons apoios de lazer e operacionais em bons horários – os aeródromos ficam irremediavelmente vazios.
Há alguns exemplos de aeródromos que em tempos recebiam vários visitantes que conviviam nos seus restaurantes e em bom ambiente, muitas vezes quase familiar.
Houve restaurantes de aeródromos que fecharam e estes tornaram-se desertos…
Esta situação torna-se um circulo vicioso, porque não havendo serviços não há clientes, os serviços fecham.
Também as condições operacionais dos aeródromos são primordiais para este tipo de operação, tal como para operação comercial. Havendo bons apoios operacionais e ajudas-rádio para aproximações, os transportes aéreos têm mais garantias que os seus voos não alternam por causa do tempo marginal. Senão, os passageiros iram preferir viajar por via terrestre, mesmo que demorem mais tempo e seja mais incómodo. Estas situações geram perda de interesse. Mesmo correndo o risco de podermos estar a ser utópicos, sugerimos que compare o aeroporto via Vigo, por exemplo, com os aeródromos municipais do Nordeste Transmontano. Qual a diferença principal entre eles? Na nossa opinião, é o investimento.
Ora este investimento passa por uma definição de uma política aeronáutica nacional inexistente. Devem ser avaliados os custos e benefícios das infra-estruturas aeronáuticas dos aeródromos secundários, avaliar e optimizar a sua operação versus rentabilidade e, por fim, melhorar – e muito – a oferta de serviços nesses aeródromos.
Finalmente continua Trás-os-Montes à espera da reactivação das carreiras aéreas Lisboa – Vila Real – Bragança e volta que tanta falta fazem.
Com os problemas gerados pela demissão do Ministro Paulo Portas (dia 2 de Julho) esperemos que tudo se resolva da melhor maneira, de molde a que isto não afecte a real necessidade destas carreiras aéreas. Deus nos ajude.

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