A opinião de ...

O ressentimento!...

No dia a dia, somos confrontados por múltiplas atitudes, desabafos, formas de ser, sentir, estar e querer. Ouvimos apelos à liberdade, à solidariedade, à serenidade, à honestidade, à partilha e à justiça, ao cumprimento dos direitos, mas sendo esquecidos, muitas vezes, os deveres mais elementares.
Neste contexto, importa refletirmos sobre a forma como nos colocamos em relação à sociedade e ao modo como reivindicamos tantas coisas, tantas mudanças por fora, e nos esquecemos de mudar por dentro, arrumando o nosso interior.
Além de exercitarmos outras formas de revisão e reflexão interior, bem poderíamos debruçar-nos sobre o estado dos nossos ressentimentos. Haverá pessoas que não carregam consigo qualquer ressentimento. Que verbalizam isso, não tenho dúvidas. Agora, do verbalizar ao ser e acontecer, há um longo caminho a percorrer. Acredito, até, que o fanatismo e posturas egocêntricas, imbuídas de uma auto-estima doentia, leve certas pessoas a concluírem que estão libertas de ressentimentos, o que, sendo autêntico, se torna uma verdadeira libertação, um conforto espiritual, um alívio de consciência.
É que os ressentimentos são geradores de desconforto, quando se pretende alicerçar a vida num contexto de saudável relacionamento interpessoal, mental e de riqueza espiritual.
Grave é quando os ressentimentos são acumulados, cristalizados, tornando-se geradores de rancor, de inveja, de ódio, de medo, acabando por se impregnar nas vidas e nas pessoas, sem as próprias tomarem consciência disso mesmo, tornando-se incapazes de limparem o seu próprio ser, potenciando pensamentos, diálogos e atos reprováveis.
Pior, ainda, é quando têm consciência desse seu MAL interior, contagiante, e não se conseguem libertar, para inverter o caminho, a forma de ser e estar, agindo em função da toxicidade que mora na sua intimidade.
Nem percebem que essa toxicidade interior, tantas vezes camuflada, acaba por envenenar as suas vidas e os seus pensamentos e até a sua saúde, emanando emoções negativas, que envenenam os ambientes, podendo tornar-se letais para quem com elas convive.
Pode até dizer-se que se tratará do “pecado escondido”, se calhar até já confessado, que hiberna, e que, quando desperta, torna-se ainda mais maléfico agravando o sofrimento mais íntimo.
Uma coisa é certa, não conseguiremos ser nós mesmos, na própria pessoa, com identidade ÚNICA, se não formos espiritualmente livres e não olharmos para o “outro”, sem ressentimentos. Por outro lado, é determinante aceitar, com humildade, as críticas francas e honestas, entendendo-as de forma positiva e construtiva, reconhecendo e procurando corrigir os erros, sem nunca deixarmos que o entusiasmo se separe de nós, contextualizado no desenvolvimento contínuo das potencialidades do amor.
Na vida, há um conjunto significativo de sentimentos, emoções, ações e devoções, que só a nós dizem respeito, pelo que ninguém nos pode substituir nessa realização.
É, pois, importante erradicar ressentimentos, construindo relações de confiança, aberta e franca. Procurando a serenidade, o perdão para nós próprios e para os demais, sem superficialidades ao nível dos afetos que causam, quase inevitavelmente, insatisfação e preocupação interior.

Edição
3526

Assinaturas MDB