A opinião de ...

Confessar-se, ou dormir com pílulas?

Toca o telefone …
- Olá Pe. Hérmino, como vai o Senhor?
- Viva Sr. Capelão, estou deitado, na maca da diálise.
- Será então que podemos falar hoje um pouco mais sobre as confissões? Pois ainda temos que dizer e, como dizia “Ludwig Wittgenstein”, que “o que se pode dizer pode ser dito claramente. E aquilo de que não se pode falar tem de ficar no silêncio”. E, nós só "contamos o milagre, não revelamos o nome do santo".
- Falamos da felicidade, lugar-comum que todos buscamos, por diferentes caminhos, das mais variadas formas, mas todos a perseguimos. Para uns ela é de uma maneira e, para outros ela é de outra. Qual será o maior obstáculo para a encontrar? E, porque é que ela se esvai, quando julgamos tê-la já segura na mão? Qual será o segredo para ser feliz, ou qual é o problema que destrói a felicidade? O pedagogo divino, em toda a sua frontalidade, não a evitou, nem hesitou em curar um paralítico para lha oferecer, dizendo: "meu filho, os teus pecados estão perdoados”. Levou, assim, os Doutores da lei a reagir e a perguntar: "como é que este homem se atreve a falar assim? Ele ofende a Deus! Ninguém, a não ser Deus, pode perdoar pecados! Jesus ouviu e, calmamente respondeu: "porque é que pensais dessa maneira no vosso íntimo? Será mais fácil dizer a este paralítico: "os teus pecados estão perdoados", ou dizer-lhe: "levanta-te, pega na tua enxerga e vai para casa"? “Pois ficai sabendo que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados" [Mc. 2, 1-12].
Porque será que Jesus faz esta introdução? Não será para nos dizer, como à multidão que acusava uma mulher apanhada em adultério: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” [Jo 8, 1-11] Ou, não teremos nós todos pecados? Recordas certamente o versículo 7, do Salmo 50, "eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-me no pecado".
- Desse versículo São João Paulo II dizia que não se tratando da formulação explícita do pecado original, como às vezes se entendeu, é o reconhecimento da fraqueza moral inata e profunda do homem. É o salmista a fazer a auto análise do pecado diante de Deus, desta triste realidade, que provém do mau uso que se faz da liberdade humana, continua o Papa que veio do frio.
- Tu que vês, e podes aceder à internet, que diz disto o Papa Francisco?
- Olhe Pe. Hérmino, pecados, até o Papa os confessa de 15 em 15 dias, «porque o papa também é um pecador» [20/11/2013]. Mas atenção, o Papa da misericórdia distingue bem o pecador e, o corrupto. Com o pecador usa-se de misericórdia, porque ele aceita converter-se, já o corrupto, principalmente quando é clérigo, o Papa é «inclemente», porque o corrupto não aceita facilmente a verdade acerca de si mesmo e, dificilmente se converte [Ivereigh, 2016].
- Claro! Todos nós temos pecados, é Jesus que nos esclarece, mas pelos vistos os corruptos têm dificuldade em os admitir. E, os pecados não será Jesus o único que os pode absolver? A nossa fraqueza persiste, porque o problema persiste. Agora, confessar os pecados não será a melhor maneira de resolver os nossos problemas? Sejamos honestos e frontais, é à medida que os confessionários ficam vazios que se enchem os consultórios dos neurologistas e psiquiatras.
- É também do Papa Francisco a expressão: “não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando denegrimos o outro é porque não conseguimos crescer e, precisamos rebaixar o outro para nos sentirmos alguém” [01/09/13].
Sim, se há fé e temos problemas de consciência, qual será mais fácil aceitar a absolvição, vivendo mais tranquilamente, ou adormecer os problemas com tranquilizantes, que em vez de nos dar a liberdade de consciência adormecemos com pílulas, provocando recalcamentos sem solução?

Com as melhores saudações pascais envio a minha colaboração, para a próxima semana.

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3828

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