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Capela de Santa Eulália, Vila Meã. “Passio Eulaliae Emeriten”!

Vila Meã ou, como também já foi referenciada, Vila Meana, Villa Mediana, Villa Meyãa e Villameaõ (vila do meio), situa-se entre São Julião de Palácios e Deilão, União das Freguesia que também agrega as aldeias de Caravela, Palácios e Petisqueira. Situada na Alta Lombada e inserta na área nascente do Parque Natural de Montesinho, dista 22 km de Bragança. A génese do povoado antecede a formação da nacionalidade, então situada na zona da Fraga do Facho, onde se implantava o templo dedicado a Santa Eulália (ou Santa Olaia), então padroeira de Vila Meã. Ao invés das cinco aldeias vizinhas referidas, que eram foreiras do rei, pertença de particulares ou tuteladas pelo Mosteiro de Castro de Avelãs, Vila Meã era herdamento do Mosteiro leonês de San Martín de Castañeda da Ordem de Cister, situado na Puebla da Sanábria. Pelo menos desde o século XII, onde os monges detinham metade dos dízimos do povoado e exerciam justiça. Não obstante, em 1320, D. Dinis taxou o povoado em 20 libras anuais durante três anos, para custear a guerra contra os mouros, e a família Figueiredo, como pobradora régia, assenhorou-se, entretanto, de parte dos bens do Mosteiro. Situação revertida em 1331, com D. Afonso IV. A situação de pertença e usufruto do Mosteiro de San Martín de Castañeda sobre Vila Meã manteve-se até ao Tombo de 1684. A Restauração da Independência de Portugal face à Espanha, em 1668, e a guerra entre os dois vizinhos ibéricos no contexto da Guerra da Sucessão de Espanha (1703-1713), tornou insustentável a situação. O Mosteiro seria obrigado a vender património e bens, cabendo à família Figueiredo Sarmento a compra de Vila Meã. Em meados do século XVIII, a freguesia de Vila Meã pertencia ao Bispado de Miranda e à Comarca de Braganca, sendo a Paróquia de Santa Eulália filial da de S. Bartolomeu de Rabal, então Comenda da Ordem de Cristo. A Igreja tinha três altares, “o mayor que he de Santa Eulallia, e os dous Colactaraes hum da Senhora do Rozario, e o outro de Sam Sebastiaõ. Tem no meyo do lugar huma Heremida da Santa Cruz” (Memórias Paroquiais de 1758). Em 1814, conforme inscrição na chave do dintel do portal principal, foi erguida no centro do povoado a nova Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios. Provavelmente, sobre a Capela de Santa Cruz. O que votou a de Santa Eulália ao abandono e consequente ermamento. Incorporou, em compartimento próprio, um altar/retábulo do Santo Cristo em madeira de estilo maneirista, com a imagem de Cristo Crucificado ao centro e, entre colunas cinzeladas por mão de mestre, telas quinhentistas pintadas a óleo, alusivas a Santa Bárbara e um Santo Bispo. Terá pertencido à Capela onde assentou a Matriz ou à de Santa Eulália? Quanto à presença da Santa, Virgem e Mártir de Mérida, destaca-se na pintura do teto do presbitério, além de na nave estarem imagens de São Sebastião e da Virgem Maria. Em 1992, o povo de Vila Meã, tendo como promotor o Padre Belarmino Afonso, decidiu fazer renascer das cinzas o antigo templo situado no aprazível espaço da ‘Fraga do Facho’, dedicado a Santa Eulália. Inaugurada em 8 de agosto, a Capela, no dizer do pároco, fazia “lembrar os pombais da região e os alpendres das varandas tradicionais”. Os cunhais, pilares e contrafortes são em pedra, as paredes rebocadas e pintadas de branco, a cobertura de duas águas, com Cruz latina em pedra, a encimar a frontaria, e pequeno campanário de sineira única, em arco de volta perfeita, voltado para o alçado esquerdo. O interior é de sobriedade contemporânea. De orientação no sentido do altar, assente em robusto monolítico de granito, com Crucifixo na parede testeira e imagem de Santa Eulália lateralizada. “Santa Olaia, com Capela nova, olhando os horizontes vastos, é um traço de união entre as gerações de um passado remoto, e as actuais, à procura de uma identidade que não desejam perder.” (Padre Belarmino Afonso).

Exterior Igreja Vila Meã

Interior da capela

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4036

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