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Capela de Nossa Senhora da Cabeça, Nogueira. Parte II. “Regina Sacratissimi Rosarii ora pro nobis”!

Durante o séc. XVIII, a Capela da Senhora da Cabeça era muito concorrida de gente nos dias em que os confrades usufruíam de indulgência papal: 2 de fevereiro, dia da Purificação da Virgem Maria; 25 de março, da Encarnação; Oitava do Espírito Santo; 1 de novembro, Dia de Todos os Santos; 8 de dezembro, da Imaculada Conceição. A devoção maior e a romagem de peregrinos ganhavam relevância a 2 de fevereiro, devotando-se os filhos dos crentes à proteção de Nossa Senhora. Na Oitava do Pentecostes, as mulheres ofereciam à Senhora cestas de trigo e peças de linho, em agradecimento pelas curas e como forma de angariação de dinheiro para o culto através de arremate público. Entre 1802-1935, existiu Confraria de Nossa Senhora da Purificação da Cabeça. Com pedido de aprovação de Estatutos em 1933, desconhece-se atividade subsequente a 1935. Atualmente, as festividades decorrem a 2 de fevereiro, com novenas iniciadas a 24 de janeiro, e a 15 de agosto, dia da Assunção de Maria, com novenas a partir do dia seis. A de 2 de fevereiro manteve-se, com procissão no dia em volta da Capela. A de agosto, ganhou tradição após a II Guerra Mundial, com a procissão dos agricultores da aldeia à Capela para bênção dos campos, das colheitas e dos animais. Fixou-se, na década de 1960, no 3.º Domingo desse mês, até se instituir, no decénio seguinte, a 15 de agosto. A imagem da Senhora da Cabeça ‘desce’ à aldeia para participar nas festividades de Santo António, recolhendo à Igreja Matriz a 13 de junho. Regressa, então, à Capela no início das novenas, a 6 de agosto. A (re)edificação da Capela em finais de quinhentos, feita também com materiais pétreos do antigo castro, resultou num edifício retangular, com o pormenor de não conter portal na frontaria. Delimitada por pilares, encimados por pináculos piramidais, rasga-se por dois janelões simétricos quadrangulares, de moldura em granito, gradeados. Na empena assenta espaldar trapezoidal, sobrepujado por pequeno campanário de sineira única, de cornija em gola, coroado por Cruz latina e ladeada por pináculos. A ala direita contém portal de acesso ao Templo, de verga reta e capiteis vegetalistas e volutados. Encima-o frontão em cortina, com figuração relevada no tímpano. No tramo do presbitério existe porta e janela retangular. A ala esquerda tem saimento referente à casa das esmolas, com porta, e à sacristia. A posterior, em empena, é cega, com Cruz no vértice e pináculos bolbosos nos pilares. Aí existe tocheiro para queima de velas e um frondoso e secular Sardão. No interior, inclinado e nivelado desde a parte fundeira à cabeceira, a nave resume-se a singelo púlpito balaustrado no lado do evangelho, sobre plataforma de granito piramidal invertida, sem escadas de acesso e, na parede oposta, a pequena pia de água benta. O arco triunfal, rebaixado, acolhe nas impostas ex-votos de cera, a maioria cabeças, indicativo de preces e agradecimentos de fiéis a Nossa Senhora da Cabeça – na sacristia, existe ex-voto em pintura moldurada. O altar, do Barroco, com mesa em forma de urna, é de retábulo policromado em três eixos. Constituem-no seis colunas salomónicas de capitel em estilo coríntio, a irradiar em arquivoltas para o ático, unidas por aduelas. A decoração é à base de pâmpanos, putti, querubins, fénices, acantos e florões. No eixo central, de volta perfeita e moldura rendilhada, expõe-se a imagem do Orago Nossa Senhora da Cabeça, com o Menino, assente em três querubins, sobre Sacrário. Imagem adquirida após a Gripe Pneumónica que varreu o país nos anos 1918-20. Nos eixos laterais, de menores dimensões, no lado do evangelho está pequena e antiga imagem de Nossa Senhora do Alívio. No da epístola, de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Em 2024, a parede fundeira foi complementada por ‘retábulos fingidos’, com pinturas de Filipe Pereira, natural de Nogueira, alusivas à apresentação do Menino Jesus no templo pela Virgem Maria e S. José (evangelho) e o velho Simeão com o Menino no colo, apresentando-o como o Messias Prometido (epístola). No pretérito 6 de agosto, foi dedicada por D. Nuno Almeida mesa de celebração, ambão e cadeira do celebrante em calcário, com representações esféricas a remeter para cabeças de ex-votos; de contextualização e estética discutíveis. Do espaço envolvente, requalificado no decorrer das últimas décadas, resultou um amplo adro, recinto de festas e de merendas e edifício com restaurante. A presente Comissão de Festas emprestou-lhe um ambiente de maior sacralidade neste 2025: construção de um cruzeiro defronte da fachada principal, com informação nas quatro faces do suporte relativas às origens da Capela e da devoção à Senhora da Cabeça; marcos em granito, com painéis gravados alusivos aos Mistérios do Santo Rosário; conclusão de sete painéis de azulejos, na parede exterior do adro voltada a Poente, com a assinatura de Zé DaFonte, natural da aldeia, com pinturas referentes a Nossa Senhora da Cabeça, tradição da romaria, procissão e devoção à Santa, Anunciação, Purificação e Assunção da Virgem. Foi ainda instalado um miradouro com a aprazível vista para a albufeira de Castanheira.

INTERIOR

CRUZEIRO

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4045

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