Ricardo Mota

Estribado...

Conhecemo-nos há muito tempo. Foi numa roda de amigos, á volta de uma mesa de café em Alfândega da Fé, café entretanto desaparecido. Estávamos talvez em setenta e dois e ele teria trinta e dois anos contra os meus imberbes vinte e picos. Para mim tudo era novidade, o namoro transmontano dava-me a conhecer a terceira terra de coração com a qual, a partir daí, me haveria de fundir.


A Chispa

Somos, de facto, o mais bizarro habitante do planeta terra. A verticalidade conseguida por mecanismos de mutação genética e habituação ao meio trouxeram-nos até aqui: humanos, de coluna vertebral erecta. As espécies proliferaram mas nós, com capacidades de raciocínio acima de todos os outros ganhamos, por acumulação intemporal, a alma e os afectos.


Catrogas...

Os ideais norteadores do posicionamento cívico perseguem-me desde sempre, mantêm-se inalterados desde o assumir da consciência. O enquadramento em determinado movimento político, sem filiação, colou-me, em dois grupos económicos distintos, etiqueta de reaccionário e comunista. De sempre, desde o vinte e cinco de Abril, o PS, da esquerda democrática, carrega esta cruz.
Um dos objectivos da Revolução dos Cravos, o da Igualdade, se conseguido, mesmo que por aproximação, engrandeceria Portugal e levaria para lá das águas os Heróis do Mar que tanto nos orgulhamos de ser.


Absurdo...

A cada passo e pela recorrência, dou comigo a matutar no porquê da coisa. Assisto, Portugal inteiro assiste, em frequência desgastante, à ira da classe docente contra tudo e contra todos.
Pela constância anual o Concurso dos Professores faz encher as ruas de protestos ruidosos, impulsiona debates ensurdecedores, amortece a alegria estudantil, desmoraliza os pais e desgasta, no geral, as gentes.


Haja decoro….

Estão perdidas nos tempos. As memórias do meu vinte e cinco de Abril esfumam-se no labirinto do inconsciente pois teimam, por vergonha, a não quererem enfrentar a realidade.
 
Lá, nos tenros vinte e três anos, ganhei novo fôlego, cresci para o mundo, enfrentei os ventos do contra e deixei-me levar pelas frescas aragens da mudança. Acreditei no nascimento de um novo mundo onde todos, novos e velhos, de mãos dadas, viveriam inebriados entre os seios fraternos da igualdade e da liberdade.
 


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