A cultura do espelho e o vazio do coração
Erguemos altares ao “eu” e chamamos liberdade ao que, afinal, nos aprisiona. A felicidade não nasce do espelho, mas do encontro — e só a humildade abre caminho a uma vida com sentido.
Erguemos altares ao “eu” e chamamos liberdade ao que, afinal, nos aprisiona. A felicidade não nasce do espelho, mas do encontro — e só a humildade abre caminho a uma vida com sentido.
Uma sociedade mede-se pelo cuidado aos seus idosos
No interior de Portugal, a Igreja continua a ser presença de proximidade e humanização para muitos idosos esquecidos. Mas esta missão não pode ser só dela: cuidar dos mais velhos é um dever de toda a sociedade civil.
Entre aldeias quase desertas cresce um inimigo silencioso: a solidão dos idosos. Não faz barulho, não ocupa manchetes, mas corrói a esperança, tira anos de vida e mina a dignidade. Muitos são os últimos habitantes da sua rua, da sua casa, da sua história.
Vivemos tempos em que tudo se mede. Contamos passos, calorias, horas, rendimentos, seguidores. Tornámo-nos peritos em calcular, mas esquecemo-nos de pensar. E quando a vida se resume a números, já não é caminho, mas tarefa; já não é projeto, mas rotina.
Guardamos gigabytes, terabytes, petabytes de dados. Mas onde guardamos as memórias? Memórias reais, feitas de encontros, de gestos, de olhares. Saber viver juntos e construir memórias é, hoje, o maior desafio da era digital.
Aprender a programar tornou-se quase obrigatório. Fala-se de código, algoritmos, inteligência artificial. Mas há uma linguagem que estamos a esquecer e sem ela, o futuro será inviável: a linguagem do encontro, do respeito, da convivência.
Vivemos tempos sombrios. Guerras prolongadas, discursos de ódio, exclusões silenciosas e desigualdades gritantes desenham o actual cenário global. A paz — essa palavra aparentemente frágil, mas poderosa — parece hoje mais uma miragem do que um objectivo partilhado. E, no entanto, há um lugar onde ela ainda pode ser semeada: a escola.
Mas estará a educação a cumprir esse papel? Ou será, como advertia Bourdieu, mais um instrumento de reprodução de desigualdades, de silenciamento cultural e de violência simbólica disfarçada de mérito?
Este texto pretende humildemente analisar as oportunidades e os riscos da transição digital no campo educativo, sublinhando que a tecnologia, por si só, não garante inclusão. Apenas quando orientada por critérios éticos e humanistas — como os que defende o Papa Francisco — poderá servir verdadeiramente o bem comum.
Vivemos um tempo paradoxal. Nunca a humanidade teve acesso a tanto conhecimento — e, paradoxalmente, nunca se sentiu tão desorientada. A tecnologia avança a passos largos, mas os valores perdem-se nas encruzilhadas da pressa. O mundo está hiperligado por redes e satélites, mas as pessoas vivem cada vez mais sós. É neste contexto que a universidade precisa de repensar profundamente a sua missão.
legado de um dos maiores pensadores portugueses do século XX e a urgência de uma formação humanista e crítica para as novas gerações.
(continuação da edição anterior)
O legado de um dos maiores pensadores portugueses do século XX e a urgência de uma formação humanista e crítica para as novas gerações.