Bragança

Caminhante esteve desaparecido 12 horas mas chegou são e salvo a casa

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-08-11 12:24

O último contacto entre Francisco M. e a família aconteceu às 18h09 de sexta-feira. A partir daí, o telemóvel deste brigantino de 50 anos, emigrado em França há várias décadas, nunca mais deu sinal.

Francisco M. tinha saído às 8h00 de sexta-feira para uma caminhada entre Gimonde e Coelhoso, no concelho de Bragança, ao longo do rio Sabor, com 22 quilómetros de extensão, que deveria durar cerca de oito horas. Sem sinal de vida, a família alertou as autoridades, que iniciaram uma operação de busca que só foi interrompida aos primeiros raios de sol para reforço de meios, que já não foram necessárias. Pouco depois das 6h00, Francisco M. apareceu em casa, trazido por um taxista de Parada.

Até lá, passaram-se quase 24 horas desde que na manhã anterior saiu de casa rumo a Gimonde para cumprir uma tradição pessoal, descer rios da região.

Noutros anos já tinha feito o troço do rio entre Montesinho e a ponte do Sabor, à saída de Bragança. Desta vez, a aventura redundou num grande susto.

Quando se passaram 13 horas desde a saída três familiares e amigos dirigiram-se à ponte que liga Coelhoso a Argozelo. À falta de sinais do caminhante, seguiram para a aldeia de Coelhoso para procurar nos cafés, sem resultado.

Nessa altura, o presidente da Junta de Freguesia de Coelhoso, João Paulo Matos, contactou a presidente da Junta de Freguesia de Grijó de Parada mas também naquela aldeia não havia sinais de nenhuma pessoa vinda do rio.

“Pelo que conheço do rio, até de algumas caminhadas que também lá fiz, é muito difícil passar em alguns locais. É preciso andar de gatas ou a nado”, contava.
A partir das 22h30 começaram os contactos com a GNR, que enviou duas patrulhas para Coelhoso.

Enquanto isso, Francisco M. estaria inanimado junto ao rio, algures entre Parada e Coelhoso, a cerca de dois quilómetros da meta que tinha traçado.

O período de seca deixou o rio Sabor com menos água do que o esperado, o que obrigou Francisco M. a um esforço superior ao esperado e a mais horas de caminhada do que o previsto, para ultrapassar as pedras que pululam do leito do rio.

Por volta das 20h00, terá decidido encostar-se para descansar, numa altura em que tonturas e dor de cabeça ameaçavam a segurança da caminhada. O corpo cedeu ao cansaço e só voltou a si já noite cerrada.

“Ao final do dia comecei a sentir uma forte dor de cabeça e tonturas. Decidi encostar-me na margem para descansar um pouco mas devo ter adormecido. Quando acordei, já era noite escura”, contou ao Mensageiro.

Nessa altura, as buscas já estavam no terreno.

Quem o conhece, sabe do espírito obstinado. Enquanto pudesse, andaria até chegar de novo à civilização. Não tendo chegado ainda àquelas horas, seria sinal de que algo de grave poderia ter acontecido, que pelo menos afetasse a mobilidade.

Enquanto aguardavam a chegada da rendição e de um elemento da equipa cinotécnica da GNR, alguns populares, guiados pelo presidente da Junta de Coelhoso, desceram à ponte dos mineiros, uma ponte suspensa que liga Coelhoso a Argozelo (Vimioso). Também não houve sinais nesse local.

Seguiram, então, para Freixedelo, com o objetivo de percorrer os caminhos ao longo do rio até Grijó de Parada. A GNR dividiu-se em duas equipas, uma de cada lado da margem do rio.

Nessa altura já se tinham juntado às buscas, informalmente, quatro bombeiros de Bragança, com o segundo-comandante Paulo Ferro à cabeça.
De França chegava a indicação do percurso feito pelo telemóvel de Francisco M. O último ponto de contacto apontava para um local próximo da confluência dos rios Fervença e Sabor.

Três veículos e dez pessoas dirigiram-se para essa zona, entre Freixedelo e Grijó de Parada.

Percorridas algumas centenas de metros pela margem, o único vestígio de presença humana foi um par de meias, que aparentavam estar abandonados há vários dias.
Pouco depois das 4h00, o grupo seguiu rumo a Parada, para um dos poucos pontos de acesso ao rio Sabor naquela zona do concelho de Bragança.
Nessa altura, sem que o soubessem, já Francisco M. tinha retomado a marcha, a corta-mato, rumo à primeira aldeia que encontrasse.
“Do ponto em que me encontrava não havia nenhum trilho”, recorda Francisco.

No escuro da noite e pelo meio de silvas e giestas, caminhou várias horas encosta acima, num dos pontos de mais difícil acesso a partir do rio.
Às 5h30, ainda sem sinal do caminhante, a equipa de buscas decidiu regressar a Bragança para preparar o reforço da operação, já com o envolvimento de mais meios. Estava prevista a entrada em cena dos bombeiros de Bragança e de mais equipas cinotécnicas (cães de busca).

Entretanto, Francisco M. conseguiu alcançar a aldeia de Parada. Aos primeiros raios de sol, dirigiu-se a uma habitação para pedir boleia para Bragança.
Após 13 horas desde o último contacto, quase 23 desde que partiu de Gimonde, chegou a casa. No corpo, um sem número de arranhões e pequenas feridas deixadas pelas silvas e pela vegetação selvagem eram prova das dificuldades sentidas ao longo da jornada.

 

Último desaparecimento foi de um pescador também no rio Sabor

 

O último caso de uma pessoa desaparecida no distrito de Bragança aconteceu a meio de junho e terminou da pior forma. Um pescador, de 66 anos, caiu ao rio Sabor perto da aldeia de Talhas, no concelho de Macedo de Cavaleiros, e já foi encontrado cadáver três dias depois.

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