Nordeste Transmontano

Deputados do distrito dizem que são precisos mais médicos para o Interior do país

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-10-19 09:21

Os deputados eleitos por Bragança para a Assembleia da República, tanto do PS como do PSD, defendem que são precisos mais médicos no interior do país, de forma a evitar constrangimentos como os que se vivem atualmente nas urgências da região.

Ao Mensageiro, o deputado do PSD Adão Silva entende que “o que se passa em Bragança é um retrato ampliado da situação de degradação que se vive no SNS a nível do país”.

“Temos mais dificuldade em recrutar médicos e outros profissionais de saúde. Temos mais dificuldade em fazer bons investimentos que modernizem os serviços de saúde e, por isso, estamos numa situação mais dramática, do que noutros pontos do país”, garante o antigo Secretário de Estado da Saúde no governo de Durão Barroso.

Adão Silva considera que “já há muitas situações de grandes falhas, estruturais e clamorosas, nos serviços do distrito de Bragança”, como “a questão do encerramento da única maternidade do distrito, denunciada no ano passado, que não se resolvia o problema com a contratação de mais médicos”.

No entanto, sublinha que “encerrar urgências é intolerável”. “Não pode acontecer de forma nenhuma. Não apenas porque os centros e saúde deixaram de ter atendimentos prolongados mas, também, porque as pessoas têm dependências muito grande das urgências e porque estamos muito distantes de alternativas, nem no SNS nem nos privados. Ficamos completamente desmunidos. A alternativa que podia haver é de grande custo, humano, físico, monetário, que era a de Vila Real, o que complicava a vida a Vila Real”, sublinha.

Adão Silva considera que o encerramento de urgências é uma linha vermelha que nunca deve ser cruzada. “É muito mau que se encerre a maternidade. É muito mau que não haja médicos em diversas especialidades. Mas o ponto mais tangente, mais clamoroso onde não pode haver qualquer tipo de problemas é mesmo o das urgências médico-cirúrgicas. É o ponto mais crítico. Se houver algum problema, alguma vicissitude, é uma situação de alto nível crítico. Apelo ao Governo e aos gestores da ULS para que não deixem que tal situação possa vir a acontecer, nem que seja por horas, dias ou até semanas. Não pode ser.

Tem de haver um cuidado especial para que esta linha vermelha nunca venha a ser transposta”, disse ao Mensageiro.
Do seu ponto de vista, a solução passa por serem alocados “mais recursos” a esta região.

“Primeiro, mais recursos humanos. Para estarem cá e se fixarem cá, precisam de ser remunerados. É preciso mais dinheiro. Dar mais salário aos profissionais de saúde”, frisou Adão Silva.

Mais dinheiro mas ainda é pouco

Recentemente, o antigo ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, lembrava que, no seu tempo, “a Saúde tinha um orçamento de oito mil milhões de euros” e que, agora, ronda os “15 mil milhões” e perguntava para onde tinha ido esse aumento.

Adão Silva considera que ainda é preciso investir mais na saúde.

“O financiamento do SNS tem vindo a aumentar e consideravelmente. Mas a carga de doença e as exigências da população ao SNS, que têm a ver com o envelhecimento, deixam-me dúvidas se esses aumentos foram suficientes. E o país tem de estar disponível para pagar, o bem-estar da população, que é cada vez mais envelhecida.
Por outro lado, está a haver com a forma como se organizou o SNS. Desprezou muito os cuidados de saúde primários. Tem sido evidente esse desprezo, por isso é que há cada vez mais utentes sem médico de família.

Por outro lado, há necessidade de modernização tecnológica do serviço. Em muitos aspetos, tem um paradigma igual ao que tinha há 20 anos. Mudou muita coisa. As redes de comunicação hoje são muito fiáveis. Podemos reduzir imensos encargos, consultas, exames”, destacou.

Já Berta Nunes, médica e deputada do Partido Socialista, diz esperar “que o Serviço de Urgência de Mirandela não encerre e que médicos e Governo cheguem a acordo”.
“Aparentemente, na última reunião, as posições aproximaram-se mais. Houve avanços importantes.  Agora no fórum médico que aconteceu ontem há aqui uma vontade do próprio bastonário dos médicos que se chegue a acordo.  Penso que na próxima reunião o acordo será possível. Esperamos que sim. Se isso não acontecer, os constrangimentos da saúde vão continuar e isso não é bom para ninguém, para os utentes nem para os profissionais da saúde”, frisou.

Por outro lado, admite que “atrair mais médicos para o interior não é fácil” mas que a solução pode passar pelas Unidades de Saúde Familiar, tipo B. “Há já uma Unidade de Saúde Familiar tipo B, ou seja, cumpre todos os critérios. Isso é bom para os profissionais, porque vão ganhar todos mais, mas também para os utentes.

Espero que na ULS Nordeste haja mais USF tipo B. Seria uma mais-valia para atrair médicos de família”, explicou, adiantando que também considera “que se devia aumentar o número de internos hospitalares”.

“O facto de ter internos é uma vantagem para podermos ter médicos novos a fixarem-se na ULS.

É preciso criar outro tipo de incentivos. E é importante que os médicos tenham oportunidade de investigação. O IPB está a trabalhar num centro académico clínico. É importante que seja aprovado para dar mais oportunidade aos médicos da região poderem fazer investigação”, concluiu a deputada socialista.
 

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