Nordeste Transmontano

"Não nos coloquem a todos no mesmo saco", pedem dirigentes de IPSS

Publicado por António G. Rodrigues/Francisco Pinto/Fernando Pires em Qui, 2021-02-04 16:24

Decisões à pressa, orientações genéricas e a vontade de limitar os contágios nas instituições são as principais razões apontadas por vários dirigentes ouvidos pelo Mensageiro de Bragança para a decisão de vacinar dirigentes de Instituições Particulares de Solidariedade (IPSS) um pouco por todo o distrito de Bragança.
A convicção generalizada é a de que não se usou de má fé nem, tão pouco, se foi contra as indicações inicialmente emanadas pela task force do plano de vacinação, cujo responsável máximo se demitiu esta terça-feira.

De acordo com o documento "Plano de Vacinação Covid", que o Mensageiro consultou, datado do início de dezembro de 2020, " os profissionais dos serviços essenciais são geralmente um dos primeiros grupos a serem considerados como prioritários para a vacinação. O seu papel é fundamental para manter o funcionamento do sistema de saúde e do setor social. Também a segurança e ordem pública têm necessariamente de ser considerados nos serviços essenciais".
O mesmo documento diz ainda que "a vacinação prioritária de profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes e dos profissionais e residentes em lares e estruturas similares é também consensual, bem como a dos profissionais de forças de segurança e forças armadas consideradas de serviço crítico".

"Apesar da atual incerteza relativa à eficácia e segurança das vacinas nas pessoas mais idosas, as que se encontram em maior risco de contágio merecem uma atenção especial na definição da precedência para a vacinação. A experiência tem mostrado que neste grupo estão os utentes de lares e instituições similares. Adicionalmente, o cumprimento das medidas de prevenção e controlo de infeção tem-se apresentado desafiante, pelo que têm ocorrido surtos envolvendo idosos residentes e profissionais nestas estruturas. Assim, os profissionais e residentes de lares e instituições similares, independentemente da idade e considerando que as vacinas aprovadas o são para estes grupos etários, são considerados prioritários para vacinação contra a COVID-19.

Para o grupo prioritário relativo à existência de comorbilidades foram consideradas as pessoas que pertencem simultaneamente ao grupo etário com maior representatividade de internamento em UCI, no qual é esperada uma maior eficácia com a vacinação, e que apresentam as comorbilidades mais associadas a risco de internamento em UCI e morte (doença cardíaca, doença renal e doença pulmonar crónica)", lê-se ainda.

"Somos presos por ter cão e por não ter. Imagine-se que o vírus entra numa instituição através de um de nós? Somos apontados como criminosos. Somos presos por ter cão e por não ter", frisou o presidente de várias instituições do distrito de Bragança, que foi vacinado por sugestão da enfermeira responsável pelo processo numa das instituições a que preside, por ter sobrado uma vacina, depois de inicialmente não ter integrado a lista enviada à ULS.

"Todos somos contra irregularidades. Não nos metam é a todos no mesmo saco", frisou.

Nos últimos dias têm-se multiplicado as denúncias de situações alegadamento irregulares no processo de vacinação um pouco por todo o país.

No distrito de Bragança, vários dirigentes de diversas instituições foram vacinados pois, explicou já o presidente da Confederação das IPSS, Pe. Lino Maia, "foi indicada a conveniência de vacinar os dirigentes ativos, que estão regularmente nas instituições".

Nesse sentido, várias IPSS o fizeram, contam ao Mensageiro, preferindo manter o anonimato. O Pe. Lino Maia frisou, em várias entrevistas a órgãos nacionais, que a sugestão foi feita à Ministra da Saúde e ao próprio Primeiro Ministro e não foi "contraditado".

Só a partir de 30 de janeiro, quando começaram as primeiras notícias de alegadas irregularidades, houve uma clarificação das regras, numa altura em que a vacinação nas instituições já ia adiantada.

Para além disso, antes do processo decorrer, as instituições enviaram  as listas das pessoas a vacinar, juntamente com as funções de cada elemento, e as listas foram aprovadas.

Ao Mensageiro, a presidente da União das IPSS do distrito, Paula Pimentel, diz "acreditar que tenham sido identificadas com rigor as necessidades" de cada instituição.

"A terem sido vacinados dirigentes são os que estão no dia a dia das instituições. Outra coisa não faz sentido", sublinhou.

Vários dirigentes apontam falhas no processo, como a dos funcionários de limpeza de hospitais de todo o país que, trabalhando na linha da frente mas não fazendo parte dos quadros, não têm direito a vacina nesta fase.

"De igual forma, os dirigentes ativos, que regularmente estão nas instituições, em contacto com utentes e demais funcionários, faz todo o sentido serem vacinados", diz um dos dirigentes contactados pelo Mensageiro.

Um dos casos apontados como irregulares foi o da Santa Casa da Misericórdia de Bragança.

Inicialmente, a denúncia partir de um enfermeiro da Unidade de Cuidados Continuados, feita à Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, queixando-se que "todos os órgãos sociais da instituição tinham sido vacinados quando havia enfermeiros da UCC que ainda não o tinham sido".

Fonte oficial da instituição sublinha que foram vacinados apenas seis dirigentes da Mesa Administrativa, que estão presentes na vida diária daquela IPSS, e não de outros órgãos sociais. Para além disso, a vacinação na UCC foi impossibilitada por um surto de covid-19 ali existente.  

"A Misericórdia de Bragança não praticou qualquer ato fora das normas nem do plano de vacinação", sublinhou a mesma fonte.

SS diz que não há nenhum inquérito

Contactada a Segurança Social, foi dada a garantia que "no distrito de Bragança ainda não foi levantado nenhum inquérito por vacinação abusiva".
Esta matéria, segundo a mesma fonte, "é da responsabilidade da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde".

No que toca a sobrantes de vacinas, têm de ser utilizadas para evitar o despacho das mesmas e têm sido administradas aos profissionais de saúde vários setores.
A vacinação de pessoas extra critérios definidos pela “Task Force” da vacinação recai sobre pessoas que, de uma forma ou de outra, podem, pelo seu exercício profissional, serem potenciais agentes de contágios nas instituições que dirigem".

Paula Pimentel também defende que, se se pretende cada vez mais presença dos dirigentes na vidas das instituições, até com o reforço de formação, estas situações devem ser acauteladas.

"O foco das instituições deve estar concentrada na seguraça e proteção aos utentes. E isso passa pela minimização do risco a que estão expostos, quer utentes quer colaboradores", disse ao Mensageiro.

"Temos de estar protegidos para poder proteger o nosso grupo de utentes", frisou.

Por outro lado, admite que o processo possa, "eventualmemnte, ter sido mal conduzido". "Aconteceu muito rapidamente e não houve tempo para pensar em pormenores. A vontade de proteger e salvaguardar os utentes é tão grande que poderão ter surgido questões menos bem respondidas.

Só quem está nas instituições tem consciência do nosso sofrimento e desgaste diário para proteger os nossos utentes", disse.

Paula Pimentel frisou que esta "é uma situação nova, excecional". "Tanto as instituições como quem nos comanda trabalha para o mesmo fim, que é proteger. Podem ter surgido dificuldades na interpretação das indicações", concluiu.

 

 

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