Mogadouro

"Nunca pensei ser presidente da Câmara"

Publicado por AGR/FP em Seg, 2013-12-30 12:13

Mensageiro de Bragança: Que balanço faz destes primeiros dois meses de mandato?
Francisco Guimarães: O balanço é positivo. Somos um executivo novo e novo nestas andanças do município. Temos de trabalhar arduamente para compreender o que é esta casa. Abraçámos com muito gosto esta nova etapa.

MB.: Como é que se decidiu candidatar?
FG.: Após o convite que me foi formulado pela comissão política concelhia do PS tive um momento de reflexão durante alguns meses. Entendi que tínhamos as condições para nos candidatarmos, assumimos esse compromisso enfrentando sempre, do outro lado, uma tarefa árdua, que se veio traduzir na nossa vitória. Uma vitória de todo o concelho porque a partir do momento em que fomos eleitos, fomo-lo para todos os munícipes.

MB.: Esperava este resultado?
FG.: Francamente, quando iniciámos a campanha eleitoral, não. O poder instalado, e muito bem instalado, no concelho de Mogadouro, nada o fazia prever. No entanto, durante a campanha eleitoral notámos que a população percebeu perfeitamente qual era a nossa ideia do programa que tínhamos e quando chegámos à parte final entendemos que havia um empate técnico. Nós vimos isso mas os nossos adversários entenderam sempre que tinham a maioria do lado deles.

MB.: Acha que o excesso de confiança do adversário jogou a seu favor?
FG.: Pode ser. Mas no concelho de Mogadouro as pessoas conhecem-se muito bem. Têm noção de quem quer estar. E isso leva, por vezes, a que haja mudanças de mentalidade, não de partido. Já não se liga muito ao partido. Felizmente que essa parte está a tomar outro rumo. Antigamente, o concelho de Mogadouro era essencialmente social democrata mas, nas autárquicas, e por mais do que uma vez, já se notou que não é bem assim. As pessoas já têm a noção da pessoa que querem e não do partido.

MB.: O facto de vir, precisamente, da área do PSD e ser candidato nas listas do PS nunca lhe causou nenhum constrangimento?
FG.: Continuo a ser amigo de todos na mesma. Essa é a parte mais importante. Poderá parecer o contrário mas não. Nem me olham do lado do PS ou do lado social democrata. Acarinham-me da mesma forma como me acarinhavam até aqui.

MB.: Como encontrou o Município?
FG.: É um dos que está com uma situação financeira estável. Já não poderão dizer o mesmo os vizinhos à nossa volta, infelizmente. Nós viemos encontrar um município com cerca de 2,5 milhões de euros, com dívidas a curto prazo não existentes e com dívidas a longo prazo de 5,3 milhões de euros. Ou seja, o município está numa situação financeira muito boa. Honra seja feita ao Dr. Moraes Machado que teve a ombridade de não alargar muito a dívida a médio e longo prazo e deixar, também, algum bolo financeiro para o concelho continuar a ter a estabilidade que tem até ao momento.

MB.: Já fez saber que havia obras em curso que não terão continuidade, numa lógica de redução de custos. Falamos do Centro interpretativo e da casa de velório...
FG.: Não abandonámos os projetos que já vinham do anterior executivo. Mas entendemos que, relativamente ao centro interpretativo dos produtos da terra, ainda esperamos que a CCDR-N nos informe da disponibilidade desse projeto mudar de local. Não o abandonámos. Ainda temos esperança de o Quadro Comunitário ser alargado até junho. Segundo os timings previstos, era impossível de concretizar este projeto.
Quanto à casa de velório, é uma obra que não está financiada, ou seja, o custo total é do município. Não havendo comparticipação, entendemos fazê-la mas noutro local mais propício à população. Temos um acordo de cavalheiros com a Diocese e vamos pô-la a concurso mal tenhamos essa possibilidade.
Os nossos adversários também nos acusam de termos abandonado a aquisição de uma máquina giratória, o que é falso. Isso estava em fase de adjudicação mas foi-nos dito pelos técnicos do município – e já era nosso entendimento – que poderíamos ter um equipamento que ainda não existia nesta Câmara, um buldozer. Tivemos a preocupação de perguntar à Associação de Municípios do Douro Superior sobre a possibilidade de podermos alterar a candidatura, não perdendo o financiamento. Foi-nos dito que o programa estava atrasado do lado espanhol e, como tal, iríamos ter a possilidade de alterar esse projeto. Já temos tudo a trabalhar nesse sentido. Financiamento é mesmo superior ao que vinha do anterior executivo.

MB.: O edifício Sottomayor poderá ser oferecido ao Governo para albergar a repartição de Finanças?
FG.: Oferecemos ao Diretor do Serviço de Finanças do distrito esse espaço para que o serviço não acabe em Mogadouro. Entendemos que é importante ter uma boa relação com o Estado mas, também, que os serviços públicos não acabem em Mogadouro.
Temos necessidade de trazer para o centro os serviços públicos que são essenciais. Estando agrupados num espaço menos distante, torna-se mais simples para o munícipe ir aos serviços que precisa. Hoje em dia podemos ter tudo à nossa mão com um simples clique mas há situações em que precisamos de procurar os serviços.

MB.: Com esta saúde financeira, que projetos entende serem mais importantes para o concelho?
FG.: O quadro comunitário 20-20 não traz grandes novidades. As grandes obras estão ‘suspensas’. De qualquer maneira temos projetos essenciais para estes quatro anos. Um deles, que é urgente, é o alargamento da zona industrial. Neste momento já fomos contactados por mais do que uma empresa para disponibilizarmos um espaço para a sua instalação. Uma delas propõe criar cerca de duas dezenas de postos de trabalho.
Da mesma forma, devemos fazer a ligação da zona industrial ao nó do IC5. Ficamos com ligação nascente/norte do concelho e ligamos a zona industrial a Espanha e ao litoral. Estamos a falar de uma distância de 300 metros.
Para além disso também temos a construção de um heliporto de grande porte para poder, também, receber helicópteros como os Kamov. E o atual helicóptero do INEM deixa de vir fazer a recolha num local menos apropriado, como é o estádio municipal, deteriorando o próprio piso.
Outra obra urgente é a casa de velório. Está nos nossos planos, assim como um novo mercado municipal. Voltamos ao que sempre defendi na campanha eleitoral. Um mercado virado para os produtos da terra, os que se produzem no nosso concelho, que são dos melhores do mundo.
Também temos a criação de incubadora de empresas. Temos aí algumas que precisam de espaço para começarem a sua atividade mas não têm local próprio. Temos de criar, com urgência, um espaço onde possam começar a sua atividade, para darmos o impulso que eles precisam.
Outra das situações é a requalificação da antiga escola primária, no bairro de S. Sebastião. Neste momento está ao abandono e foi alvo de vandalismo. Também estamos a preparar a sua requalificação, porque queremos potenciar cursos técnicos e profissionais, para além de termos a questão do Ensino Superior. Mogadouro tem a funcionar três turmas de CETs. Já fiz o pedido ao presidente do IPB (Sobrinho Teixeira), de podermos ter aqui uma licenciatura ou mestrado na área dos CETs que se vão desenvolvendo em Mogadouro.
Precisamos, também, de uma cantina escolar, inserida na área do agrupamento de escolas. A nossa já é antiga, está fora do círculo fechado do agrupamento. Estamos já em negociações com o Ministério da Educação, no sentido de nos fazerem um projeto de requalificação da cantina.
A construção de um multiusos está, também, já em fase de estudo e de anteprojeto. Já reunimos com a empresa responsável, que nos apresentou um ‘croqui’ do que pretendem. É no mesmo local. É um pavilhão com uma dimensão que vai orgulhar não só o concelho de Mogadouro mas, também, o distrito de Bragança.

MB.: O que vai permitir?
FG.: É multiusos, com duas bancadas com cerca de duas mil pessoas, com uma área grande e requalificando o pavilhão que está ao lado. Queremos que volte a funcionar ali o mercado do gado. Mogadouro tinha uma presença forte no distrito que se perdeu.

MB.: Estes projetos surgem devido à centralidade conferida pelo IC5?
FG.: O IC5 chegou com 30 anos de atraso. O IC5 veio trazer mais-valias. Nota-se a procura de lugar para se instalarem no concelho. É importante termos algo para dar em troca a quem nos procura.

MB.: Mas já houve projetos anunciados que acabaram por não se concretizar. Não teme que venha a acontecer o mesmo?
FG.: Este quadro 20-20 também está direcionado para os empresários. Se eles têm apoio, é importante termos espaços para lhes darmos. Se não, não se vêm instalar.

MB.: Houve dois empreendimentos que foram anunciados recentemente para o concelho mas nunca avançaram. Esses empresários já reuniram consigo para lhe dar conta do ponto da situação?
FG.: Não, até ao momento ainda não tive contacto com nenhum desses dois empresários.

MB.: A empresa que já o abordou é de que área?
FG.: Transformação de papel.

Dia das eleições
MB.: Ainda se lembra daqueles momentos a seguir à eleição, com a contagem e recontagem dos votos? Como viveu esses momentos?
FG.: Pode parecer mentira mas no dia das eleições estava muito calmo. Fomos acompanhando os resultados ao longo da noite de forma aberta e descontraída mas, na terça-feira, no dia de apuramento geral dos votos, tive um bocado de pressão. Nos outros dias as pessoas trataram-me com muito carinho. Primeiro tínhamos ganho por um, depois tínhamos perdido, depois tínhamos ganho por dez, por 11. No final, oficialmente ganhámos por 12 votos. Estivemos sempre tranquilos ao longo da noite. Enquanto os resultados da vila não saíram, estivemos a perder por 300 votos. Depois começou a aparecer a primeira mesa de Mogadouro, que nos deu a vitória por 156 votos e demos um salto. Ainda tivemos outra peripécia, que foi um incêndio na viatura da GNR quando os militares regressavam das Quintas das Quebradas e dos Estevais com as urnas. Os militares tiveram a hombridade de, já com o jipe em chamas, tirar os votos do jipe.

MB.: Viu perigar a eleição em algum momento?
FG.: Não. O resultado da mesa três é que demorou muito tempo a ser apurado. Foi apenas uma contagem normal.

MB.: Já alguma vez tinha pensado chegar aqui, a este gabinete?
FG.: Acredite que não. E às vezes ainda penso como é que estou aqui. Os mogadourenses entregaram-mo porque me conhecem, desde miúdo.

MB.: É verdade que ambicionava apenas a Junta de Freguesia?
FG.: Estive 16 anos como secretário na Junta. É verdade que pensaria mais tarde fazer parte desse órgão como candidato. Com a remodelação que houve e do impasse que se criou de poderem ou não serem recandidatos quem tinha três mandatos, nem estava no meu horizonte concorrer à Junta, pois achava que o anterior presidente iria ser o candidato, o que acabou por não se verificar.

MB.: Estava para ser candidato pelo PSD à Junta e acabou por concorrer pelo PS à Câmara?
FG.: Não, não. Nunca fui convidado pelo PSD.

MB.: Chegou a haver conversações?
FG.: Não, não. Sei que me foi dito, há muito tempo, que iria ser formalizado o convite a Francisco Lopes. A mim nunca convidaram e eu nunca seria candidato à Junta nos tempos futuros.

MB.: Mas integraria uma lista à Junta com Francisco Lopes?
FG.: Ele nunca me convidou. Sempre tive um bom relacionamento com ele. Nunca chegámos a falar nisso porque, entretanto, chegou o convite para assumir a candidatura à Câmara.

MB.: Assume-se como independente nas listas do PS?
FG.: Sou independente. Desfiliei-me do partido (PSD) atempadamente. Antes mesmo da candidatura. Continuarei sempre como independente. O partido fica lá fora, mesmo no Executivo.

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