Música

“O IPB domina a arte de saber praxar...”, garante MK Nocivo

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2014-03-20 14:49

Jorge Rodrigues, aka MK Nociso (como quem diz, também conhecido por...), decidiu dar uma pedrada no charco e abanar o mundo adormecido do rap em Trás-os-Montes. Os seus últimos vídeos foram sucessos instantâneos na internet. No verão, uma homenagem aos bombeiros tornou-se viral, assim como A Carta de um Dux, depois dos acontecimentos no Meco. Ao Mensageiro, explica o sucesso.

Mensageiro de Bragança: Como começou a carreira?
MK Nocivo: Comecei a escrever e a produzir em maio de 2004, mas já oiço rap desde 98 depois de ver um videoclip de Run DMC “It’s Like That”. Fiquei fascinado com todos os elementos desta cultura que surgiam no vídeo, o que me fez querer saber mais. Comecei em meados de 2000 com o graffiti mas depois vi que não era bem aquilo que eu queria. Precisava de outra forma de me expressar. Já havia alguns amigos meus que também gostavam e depois de uma conversa em 2004 com um deles (B-Fatz), decidimos criar o Eskuadrão Furtivo.

MB.: De onde veio o gosto pelo hip-hop, que tem pouca tradição em Bragança?
MK.: Se calhar foi mesmo por isso, sabes? Nunca fui de modas e de seguir tendências. Éramos tão poucos a ouvir e a fazê-lo que era isso que nos tornava diferentes. Hoje em dia o Hip-Hop está na moda, mas nada como nos mantermos fieis às origens e seguir com os mesmos princípios com que começamos. Fazê-lo para nos expressarmos, pelo amor e não pela fama.

MB.: Qual é a dificuldade maior de um rapper em Bragança, uma região do Interior?
MK.: Dar a conhecer o teu trabalho, sem dúvida. Eu sei que todos dizem que hoje em dia com a Internet é mais fácil, mas não é assim tão fácil como se pensa. Aqui ainda há pouco movimento no que toca a esta cultura. Acredito plenamente que quem está nos grandes centros consegue divulgar a sua mensagem muito mais facilmente. Eu costumo dizer: “não é Bragança que me faz viver” pois, muito sinceramente, somos muito melhor recebidos em qualquer sítio fora daqui. Aqui já há poucos espaços culturais ou onde se possam fazer eventos e aqueles que há, a meu ver, não dão o devido valor ou não o compreendem. “Santos da casa não fazem milagres”, não é verdade?

MB.: Nos últimos meses tem apostado em alguns temas que se relacionam com a atualidade, como os bombeiros ou as praxes. É estratégico?
MK.: Não, nem nada que se pareça. Simplesmente aconteceu. A música dos bombeiros “Soldado da Paz” já tinha saído há algum tempo, eu nem era para fazer videoclip, até ser contactado pelo Paulo Ferro, do quartel daqui de Bragança. Foi ele quem me convenceu a fazê-lo, logo não poderia ser nada estratégico quando a ideia nem partiu de mim. No caso da “Carta De Um Dux” quis mostrar simplesmente que as pessoas não podem generalizar e meter tudo no mesmo saco. Os media estavam a tentar acabar com as praxes e eu, como Dux de Línguas para Relações Internacionais no IPB, não podia deixar isso acontecer, e já que a minha voz tem alguma força, porque não usá-la para combater essa generalização e defender o que é nosso?

MB.: O último vídeo, sobre as praxes, teve milhares de visualizações. Como vê esse sucesso?
MK.: Da mesma forma como vejo o que tiver menos visualizações, não se pode deixar essas coisas subirem à cabeça, porque a música é deveras inconstante. Gostos não se discutem, todos nós sabemos que umas pessoas vão gostar mais de umas porque se identificam e outros vão preferir outras, é o normal. Mas, para mim, cada música é como um filho e não se pode amar mais um filho do que outro.
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