// Legislativas'22 - ENTREVISTA A SOBRINHO TEIXEIRA (PS)

“Queremos encontrar políticas que possam inverter a situação de quebra demográfica"

Publicado por Glória Lopes em Qui, 2022-01-27 10:04

O independente que António Costa foi buscar ao Instituto Politécnico de Bragança (IPB) para secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior estreia-se na corrida à Assembleia da República.
Sobrinho Teixeira, 60 anos, professor, promete empenho na tentativa de delinear e executar projetos que ajudem a travar o inverno demográfico do distrito.
Mensageiro de Bragança: Que bandeiras o Partido Socialista ergue nesta campanha?
Sobrinho Teixeira:
A principal bandeira que queremos assinalar prende-se com o grande  problema do nosso distrito, que quanto a mim é a redução demográfica. Por causa deste vêm todos os outros. Na sua grande maioria os outros problemas existem por que existe a redução demográfica. Nós queremos encontrar políticas que possam inverter esta situação. A nossa visão é a seguinte, a região tem que mudar, começando logo pelo setor primário, pois é preciso aumentar a produtividade agrícola. Vamos defender o reforço do Plano Integrado dos Aproveitamentos Hidroagrícolas, que é essencial para o aumento da produtividade agrícola, mas também para fazer face às alterações climáticas. É uma questão de resiliência e de soberania nacional pensar num sistema de regadio que nos permita mitigar essas questões e continuar a ter uma produtividade agrícola que deixe  país confortável em termos de reserva estratégia.

MB.: Como se encaixa nessa estratégia o conhecimento adquirido nas instituições de ensino superior, como o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e dos centros de investigação?
ST.:
Temos que aproveitar o conhecimento desenvolvido pelo ensino superior, neste caso no IPB e nos centros  de investigação, para ajudar a combater e encontrar soluções para os problemas da agricultura, nomeadamente as pragas, ou o desperdício, como o bagaço de azeitona. Queremos transformar esse bagaço, que tantos constrangimentos causou este ano, para criar um subproduto, conseguindo através do conhecimento e da inovação arranjar soluções. A produção de azeitona está a aumentar e o problema vai agravar-se. Temos que encontrar soluções a curto prazo para avaliar a nível ambiental, mas não é sustentável andar sempre a produzir resíduos, o melhor é encontrar soluções para os transformar. Precisamos de fazer evoluir a nossa agricultura para uma agricultura mais amiga do ambiente, seja em produção integrada ou em modo biológico, que passe a ser de precisão, com mais eficiência na gestão, que passe pela constelação de pequenos satélites  que este governo planeou lançar a partir da ilha de Santa Maria nos Açores.

MB: Mas qual é o ponto chave?
ST.:
Olhando para a questão demográfica e vendo que o setor primário é o nosso grande recurso endógeno  temos que avaliar que só por si a agricultura não gera uma necessidade de mão de obra suficiente para inverter a redução demográfica. Daí que é preciso apostar na implementação de uma economia com mais necessidade de recursos humanos, baseada no setor secundário e na nossa capacidade de industrialização. Isto faz-se mediante duas situações, primeiro uma questão de mentalidade e de oportunidade face ao que é a nossa própria dificuldade, temos que deixar de olhar Bragança como o Interior de Portugal e a Região mais longe da capital para olhar como a mais próxima da Europa, e afirmar a centralidade Ibérica. Porque nós estamos no centro da Península Ibérica e, como tal, somos atrativos para a instalação de uma série de indústrias que façam o seu negócio pelas autovias espanholas.  Não há razão para que essas indústrias percorram mais quilómetros quando se podem transformar uma aparente dificuldade numa oportunidade. Para isso temos que oferecer mão de obra qualificada  e conhecimento. Baseando no que já é hoje a realidade do IPB, com cerca de 9 mil alunos, a maior instituição de ensino superior do interior de Portugal, com um corpo docente bastante qualificado e numeroso, com centros de investigação qualificados e reconhecidos ao mais alto nível, laboratórios colaborativos ao longo do nosso território em Bragança, Chaves e Vila Real. Sim, podemos dizer às empresas que além de estarem em Portugal e perto de Espanha estão num local onde tem mão de obra qualificada,  conhecimento e inovação capazes de aportar para gerar economia dentro desses territórios. Aí pensamos poder inverter esse percurso de redução demográfica através da criação de emprego e de economia.

MB.: Acredita  que ainda é possível inverter o inverno demográfico no distrito?
ST.:
Eu acredito naquilo que estou a dizer. Quando era presidente do IPB, quando estávamos nos 7500 alunos, muitos dos quais não eram da região, eram do Norte e do Centro, diziam-me que até gostavam de ficar em Bragança ou no distrito se tivessem oportunidade de emprego. Nós temos atratividade, mas é preciso passar esta ideia de que só com economia que necessite de mão de obra podemos criar possibilidade e necessidade de ter pessoas a fixar-se. O que também passará por implementar o conceito de centro urbano nas cidades, como na capital do distrito, com mais urbanidade e facilidades, através de  bons equipamentos de saúde, ensino de qualidade e onde se possa consumir cultura, lazer e até onde se pode ter uma noite atrativa. Esta conjugação se situações, que vamos tentar  implementar em colaboração com os municípios, servirá  para alcançar dinamismo económico.

MB.: Mas para a tal centralidade de que fala são precisas acessibilidades, algumas das quais são reivindicadas há muitas décadas e nunca avançaram?
ST.:
Para ter a tal centralidade Ibérica faz cada vez mais sentido as ligações e conexões à fronteira, com estradas como a de Vinhais-Gudiña, Bragança-Puebla de Sanábria, a ligação do IC5 no concelho de Miranda do Douro até à fronteira, bem com o fecho do IP2.

MB: Quando entregou a lista do PS candidata às legislativas no Tribunal de Bragança, disse que é preciso resolver a questão dos impostos relacionados com a venda das seis barragens do Douro à Engie. Mantém essa ideia?  
ST.:
  É uma grande bandeira na nossa candidatura. A resolução da questão dos impostos da venda das barragens tem que ser resolvida. Ela está avaliada pelo Ministério Público para ver se há alguma irregularidade. Vamos deixar a justiça funcionar. Dentro da Autoridade Tributária  tem que se averiguar, se face à atual legislação, há ou não lugar ao pagamento dos impostos reivindicados. Do nosso ponto de vista, de sensibilidade pública e de bom senso, achamos que deve haver lugar a esse pagamento. Das duas uma, ou esses impostos vão ser pagos, ou a legislação não está bem. Se forem pagos é o que todos desejamos. Se assim não for, temos que, na Assembleia da República, promover iniciativas e alterações legislativas que vão de encontro a esse desejo.

 

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