A opinião de ...

6. Operações Militares a 25 de Abril de 1974!

Golpe militar em curso e um regime atordoado. Com a ocupação de pontos fortes pelo MFA, incluindo os QG de Lisboa e Porto, só às 5h da manhã Marcello Caetano foi alertado dos acontecimentos por Silva Pais, diretor da PIDE/DGS. Então, e de forma algo descoordenada, o regime procurou mobilizar efetivos, socorrendo-se da GNR, do Regimento de Cavalaria 7 (RC 7) e do Regimento de Lanceiros 2 (RL 2) – Calçada da Ajuda.
A medição de forças começou no Terreiro do Paço, onde a coluna da Escola Prática de Cavalaria (EPC), ”uma das mais poderosas das que participaram no golpe” e afeta ao MFA, marcou o terreno pelas 6h, depois de intimar efetivos da Polícia Militar, dirigidos pelo alferes miliciano David e Silva, a passar-se para o Movimento. Comandada pelo capitão Salgueiro Maia, tinha saído de Santarém, cerca das 3h, com mais de 200 homens e viaturas blindadas. Obrigou, depois, à rendição de um esquadrão de Cavalaria 7, comandado pelo tenente-coronel Ferrand D’Almeida, surgido pelo Cais do Sodré, o mesmo acontecendo a efetivos da GNR vindos do Campo da Cebolas. Cerca das 9h, ocorreram então os momentos decisivos. Fundeada no Tejo, a fragata «Almirante Gago Coutinho» recebeu ordens para virar as suas peças para o Terreiro do Paço, visando as forças do MFA. Mas o comandante, António Seixas Louçã, não anuiu a fazer fogo e a tripulação inviabilizou qualquer ação nesse sentido. O segundo momento ocorreu quando o brigadeiro Junqueira dos Reis, 2.º comandante do Governo Militar de Lisboa, ao comando de quatro carros de combate Patton M47, uma Companhia de Caçadores (do RI 1) e dois pelotões da Polícia Militar, procurou o confronto com os efetivos da EPC. Duas colunas avançaram a partir da avenida Ribeira das Naus, sob o comando do major Pato Anselmo, e da rua do Arsenal, sob seu comando. Depois de negociações encetadas pelo capitão do MFA, a primeira coluna rendeu-se e a do brigadeiro desobedeceu à ordem para disparar. Como o perigoso precedente do primeiro tiro não aconteceu, a «prova de fogo» do Terreiro do Paço estava vencida e, assim, a revolta militar.
A resposta do regime tornava-se incipiente, pela defeção nas suas forças e porque um «novo elemento» passou a influir nos acontecimentos – a população. Vitoriando o MFA, prenunciou o cariz revolucionário da revolta militar. Ao meio-dia, o PC da Pontinha deu ordens a Salgueiro Maia para se dirigir para o Carmo e sitiar o QG da GNR, onde se tinha refugiado Marcello Caetano, e enviou o major Jaime Neves para a Penha de França para impor a rendição do QG da Legião Portuguesa, o que se verificou às 13:30h. No Carmo ocorreu o derradeiro episódio, onde as tropas da EPC montaram um cerco ao quartel. Entretanto, o brigadeiro Reis procurou posicionar-se com os blindados na Praça Camões, uma força da GNR colocou-se na Rua Nova da Trindade e um contingente da PSP instalou-se no Chiado. Com dificuldades em movimentar-se por entre a multidão, foram obrigados à rendição por uma força de Cavalaria 3 de Estremoz que, por indicação do PC, abandonou a sua posição no Cristo-Rei, de onde ameaçou a fragata, para resolver o problema do Carmo.
Ao final da tarde ficou tudo decido: o RL 2, na Calçada da Ajuda, anuiu à rendição; a GNR cedeu, depois de as forças sitiantes do Carmo terem feito disparos de metralhadora contra a fachada do quartel e de os blindados ameaçarem fazer o mesmo; cerca das 16:30h, iniciaram-se as negociações para a rendição de Marcello Caetano, o que se consumou através do general Spínola; às 19:30h, a chaimite Bula saiu do quartel do Carmo com o Presidente do Conselho e o general. Como se constata, a resistência militar do regime foi titubeante e a ação do governo mal existiu. O presidente do Conselho, em vez de se instalar no bunker de Monsanto e dali comandar as operações, conforme decretado, refugiou-se no Carmo (um buraco no centro de Lisboa), os ministros dispersaram-se pelo Ministério do Exército, Monsanto, Calçada da Ajuda e Carmo, e o Presidente da República, Américo Tomás, permaneceu em casa. Ninguém dirigiu ou comandou a marcha dos acontecimentos.
A «Operação Fim-Regime» terminou vitoriosa, com o PC do MFA a informar, às 19:50h, que se «concretizou a queda do governo». Às 20h, no RCP, foi lida a «Proclamação do MFA» e, à 1:30h do dia 26, a Junta de Salvação Nacional mostrava-se ao país como novo poder, encabeçada pelo general António de Spínola. Entretanto, a DGS rendeu-se a 26 de abril.

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