A opinião de ...

9. 25 de Abril de 1974. Major Otelo Saraiva de Carvalho 1936-2021

igura militar carismática e a mais controversa, omnipresente em todas as movimentações político-militares de 1974 e 1975.
Filho de funcionários públicos, nasceu em Lourenço Marques/Moçambique. Entrou para a Academia Militar (AM) em 1955, onde concluiu o curso de Artilharia. Durante a Guerra de África cumpriu duas comissões de serviço em Angola (1961-1963 e 1965-1967) e uma na Guiné (1970-1973). Foi aqui, onde serviu com o General Spínola, que germinou o rastilho que resultaria, posteriormente, no «Movimento dos Capitães». Regressado à metrópole foi parte ativa nas reuniões conspirativas contra o regime, enquanto assumiu funções de professor de Tática de Artilharia na AM, com a patente de major. Na reunião de Cascais (5 de março de 1974), equacionou-se um golpe de força para derrubar o regime, sendo Otelo designado responsável operacional. Foi um dos organizadores do «golpe das Caldas», que resultaria num «passo em falso». Determinado, decidiu organizar nova ação de rutura, ciente que o regime afrouxara a vigilância ao MFA e que o fracasso do «16 de Março» era imputável ao deficiente planeamento. O mês de abril revelou-se-lhe frenético, entre a elaboração de um plano de operações onde constava a missão, os objetivos, as «unidades amigas», as forças afetas ao regime, a ideia de manobra e contactos e reuniões clandestinas. A 24 de abril de 1974, instalou-se no quartel de Engenharia da Pontinha (nome de código Óscar, iniciais do seu nome), acompanhado do Tenente-coronel Garcia dos Santos, responsável pelas transmissões, dos Majores Hugo dos Santos e Sanches Osório, do Capitão-tenente Vítor Crespo e do Capitão Luís Macedo. Daí coordenou as forças que a partir da madrugada do dia 25 convergiram para os objetivos fixados em Lisboa e no Porto. Sempre confiante e agarrado ao telefone, dava instruções às unidades, recebia, a partir do terreno, relatórios verbais do desenrolar da ação, e mantinha os oficiais revoltosos a par do evoluir da conjura. Com a direção política do regime surpreendida e apática, colocando forças militares na rua tarde e sem critério, o golpe militar consumou a «viragem Histórica» em menos de 24 horas.
Se a ponderação e a humildade tivessem gravado o seu espírito, Otelo ficaria referenciado como herói nacional. Contudo, nos meses seguintes assume-se fiel guardião das liberdades, sôfrego de poder e do aplauso popular. Graduado em oficial-general, entre 1974-75 foi comandante da Região Militar de Lisboa e do COPCON, este criado como medida militar contra atividades contrarrevolucionárias, integrou o Conselho da Revolução e fez parte, com o General Costa Gomes (Presidente da República) e o General graduado Vasco Gonçalves (Primeiro-Ministro), do «triunvirato» que presidiu aos destinos do país. Otelo toma, inclusive, Fidel Castro como modelo (esteve em Havana em julho de 1974), sonha com a «revolução armada», vê inimigos em todos os lados, procede a mandados de captura dos identificados como reacionários, ameaça com fuzilamentos. A tensão política e social atinge o rubro e, com a partidarização anárquica dos quartéis, tende-se para a guerra civil. Até que emergem fações militares moderadas e contrarrevolucionária: a Norte com o brigadeiro Pires Veloso e em Lisboa através do «Grupo dos Nove», com o Tenente-coronel Ramalho Eanes à cabeça. Derrotadas as forças partidárias e militares da esquerda revolucionária, o «Processo Revolucionário em Curso» dá lugar ao «Processo Constitucional em Curso.
Como resultado do «25 de Novembro de 1975», o Major Otelo Saraiva de Carvalho foi preso durante 44 dias. Meses depois, está de novo na ribalta, abraçando a candidatura a Presidente da República com o apoio da esquerda revolucionária, que perdeu para Ramalho Eanes. As candidaturas repetem-se em 1980, não indo Otelo além de 2% de votos. Depois, entre junho de 1984 e maio de 1989 é preso, acusado de envolvimento na organização terrorista Forças Populares 25 de Abril (FP-25), que matou 18 pessoas e atentou contra a ordem constitucional. Libertado dez anos antes da pena consignada, foi amnistiado em maio de 1996 do crime de «associação terrorista» pela Assembleia da República, permanecendo indiciado como autor moral dos «crimes de sangue». Foi absolvido em 2001.

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