Laicismo disfarçado
Durante a última semana, alguns órgãos de comunicação social nacional (instigados por alguns lóbis) levaram a cabo ataques à religião, nomeadamente à Igreja Católica. Uma dessas notícias, intitulada pelo Jornal de Notícias: “Escolas públicas celebram missa durante as aulas”, dá voz às queixas da Associação República e Laicidade considerando esta atividade “ilegal” que “exclui alunos por não terem uma determinada religião”.
De facto, a associação acima referida, que de laica tem apenas o nome, já nos tem habituado, propositadamente, a confundir os vocábulos: laico e laicista. Pegando nos ideais laicos, que tal associação defende e bem, devemos ter uma sociedade livre, inclusiva e justa. Então, mas se uma atividade que consta no Plano Anual de Atividades de um Agrupamento de Escolas (aprovado pelos órgãos de decisão), é proposta para a comunidade escolar que participa de uma forma livre (até por pessoas de diversas religiões) será ilegal só porque é religiosa? Não me parece! De seguida, o que fazer com os alunos que, sendo livres, optam por não participar na atividade? Muitas das escolas que foram citadas na referida notícia têm essa preocupação e apresentam atividades paralelas para esses alunos. Não serão, estas, atividades inclusivas?
Na luta pela liberdade, a oposição a qualquer manifestação religiosa, independentemente da confissão, é claramente o obstáculo à própria liberdade religiosa. Esta é a atitude natural de uma sociedade laicista, não o pode ser numa sociedade laica como a nossa. Nesta, a liberdade religiosa impera e, por isso, qualquer crente tem a liberdade de manifestar a sua crença (sendo eu católico, porque não participaria numa celebração judaica, islâmica, budista ou uma conferência de ateus na minha escola?).
Na defesa de uma sociedade moderna e justa, e sendo a religião (quer queiramos, quer não) cultura, não seria injusta a proibição de qualquer manifestação de sentimentos e crenças ou o abandono de atividades que fazem já parte da tradição de uma terra e/ou agrupamento? O que dizer quando, numa atividade do género, 90% dos alunos querem participar de forma livre, independentemente da confissão religiosa, transformando uma atividade que deixa de ser apenas religiosa para se tornar enriquecedora e transversal à Lingua Portuguesa, à Educação Musical, aos clubes de dança, teatro, etc.
Pessoalmente, respeito todas as associações na qual se inclui a República e Laicidade porque a nossa sociedade precisa de pessoas ativistas que defendam os valores e denunciem os atentados que impedem a existência de uma sociedade livre e justa. No entanto, estas ideologias não se promovem com a remoção da religião de qualquer sociedade porque, quando há uma tentativa do género, está-se a tentar reduzir também o património cultural, histórico e tradicional contribuindo para a perda de identidade e da própria matriz de unificação de uma sociedade, com possíveis resultados negativos.
Desconheço qualquer religião que não defenda os valores da liberdade e da justiça por isso, considero que, mais do que atacar cegamente a religião, devem-se denunciar as situações que não correspondam com as ideologias e crenças de cada confissão mas também os lóbis e sociedades secretas que promovem as trocas de favores, a corrupção, a desigualdade, as influências, a injustiça. Sobre isto, escreve-se pouco.
Por fim, estranho também o silêncio das instituições eclesiais e de diversos comentadores que sobre as últimas notícias, nem uma linha.