A opinião de ...

A Economia VI - As hortas a)

Na disponibilidade aparente da economia familiar extinguia-se a abundância. As terras disponíveis eram utilizadas ao extremo dentro de uma “tecnologia inexistente” adaptada às necessidades e possibilidades. O mínimo que se pode dizer é que as explorações eram diminutas e muito parceladas, o que dificultava muitíssimo a produção. Ainda hoje assim é.
O termo tinha caminhos próprios, que nem sempre ligavam convenientemente as freguesias vizinhas, agravando o isolamento. Por vezes eram pequenos riachos de inverno, que secavam no resto do ano. De minha lembrança, o clima era substancialmente mais quente de verão, muito seco, e muito mais chuvoso nos meses de Outubro a Maio, onde as trovoadas eram a regra. Poderão ser erros de memória, os meteorologistas o dirão. As chuvas abundantes não ajudavam em nada a manter estas comunicações, que a água corrente, e as rodas dos carros de bois, se encarregavam de afundar, por vezes dezenas de centímetros na rocha dura, ao longo dos últimos séculos.
Quase todas as explorações eram autossuficientes, numa pura economia de subsistência. No entanto, nas produções animais, isto não se verificava, pelo menos no que diz respeito aos bovinos ovinos e caprinos. Só a criação de aves de capoeira, coelhos e porcos eram prática generalizada a toda a população.
Começaria estas memórias pelas hortas, pela sua importância determinante na economia familiar, sem deixar de ser produção agrícola e pecuária, puras e duras.
A horta era, como hoje, em parte, a base de sustento da casa em termos de produtos vegetais. A sua importância determinava que quase tudo parasse na época de plantio, incluindo as feiras concelhias, que se viam reduzidas à ínfima espécie. Todo o esforço se dirigia à horta. De acordo com a localização (terra fria ou terra quente) iniciava-se a lavoura quando não havia excesso de água e a terra permitia, por Março ou Abril. Os vários plantios iam-se sucedendo de acordo com as suas exigências em água, temperatura e luz. Nestes meses ainda há geadas frequentes.
Semeava-se ou plantavam-se batatas, couves várias, feijão, ervilhas, tomate, alface, alhos, cebolas, cenouras e muitos outros, de acordo com os locais e o gosto pessoal. Havia sempre espaço para as abóboras, que se conservam facilmente meses a fio. Meses antes, no outono, semeava-se o nabal, para o gado e para os grelos, muito apreciados. As hortas eram cuidadas durante toda a primavera e verão, retirando aos poucos os seus produtos, cavadas periodicamente, para retirar infestantes, e regadas várias vezes por semana. Não é tanto a dureza do trabalho, é mais a atenção constante que é necessária. Uma horta bem cuidada é uma obra de arte e hoje fazem-se concurso de hortas, em termos técnicos e estéticos. Mesmo as grandes cidades estão a recriá-las.
No início da época punham-se as enxadas a entourar, porque a madeira secava na adega e não ficava firme. Colocava-se a extremidade do sacho em água para a madeira inchar e ficar fixa.
Quanta gente terá memória daqueles sachos já redondos, de tão gastos pelo uso.

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