A opinião de ...

Ser Mais

Um novo ano, muitas vezes, surge como um momento em que as pessoas renovam as suas esperanças. Na perspetiva de Paulo Freire, a esperança precisa ser acompanhada pela ação para se transformar em concretude histórica. A espera passiva é considerada vã, a verdadeira esperança é dinâmica e envolve a participação ativa na transformação da realidade. Neste sentido, a esperança constitui-se a força motivadora que impulsiona o ser humano a trabalhar em direção a utopias que nos dão uma visão de estado ideal e de perfeição. Contudo, como nos diz Saramago, “a utopia só é válida se se puder alcançar amanhã, não dentro de cinquenta anos. É preciso lutar por coisas concretas: justiça, bem-estar, felicidade… É isso que importa. Já há demasiadas palavras e algumas não dizem a verdade”. A utopia, entendida como um processo de luta por um ideal, sugere que, através da educação, podemos enfrentar desafios e criar oportunidades para um futuro melhor. No contexto utópico, a educação pode ser concebida como o meio pelo qual sociedades ideais são construídas, onde a igualdade, a justiça e a compreensão mútua são promovidas. No contexto da pedagogia freiriana, a utopia está intrinsecamente ligada à procura constante de “ser mais”. É importante notar que “ser mais” não contempla interesses pessoais dos indivíduos envolvidos na construção dessas visões. O sucesso ou fracasso em alcançar uma utopia ou eutopia pode depender, em parte, de como esses interesses pessoais são conciliados com o respeito pelo outro, bem como com as necessidades e perspetivas da sociedade como um todo.
Embora uma utopia educacional perfeita possa ser difícil de alcançar na prática, a procura por melhorias contínuas no sistema educacional é fundamental para promover o desenvolvimento humano, a equidade, a resiliência e a formação de cidadãos responsáveis e críticos. A reflexão constante sobre as práticas educacionais e a adaptação a novos desafios são aspetos importantes para a evolução do sistema educacional em direção a metas mais próximas de ideais utópicos. A ênfase recai também em lideranças que valorizam e permitam a coexistência de diferentes perspetivas e promovam a vivência da cidadania, valorizando e respeitando os diversos atores e autores.
Quando a educação deixar de ser utópica, ela perde a sua força desafiadora, a sua capacidade de denunciar as injustiças e anunciar possibilidades (trans)formadoras. Vamos, por isso, ser utópicos e ter esperança, lutando para podermos “ser mais” e, desta forma, contribuirmos, por meio da educação e de ações conscientes e fundamentadas, para a construção de um mundo mais humano.

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3969

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