A opinião de ...

As guerras televisivas

De tempos a tempos, se bem que em intervalos de intervalos de indignação ou desconchavados, procuro perceber as guerras surdas ou estridentes entre os quatro canais de televisão açambarcadores do grosso dos telespectadores.
Só os distraídos e tontos utilitários é que não notam as transferências de rostos e cérebros num vai vem recheado de rivalidades, contas por ajustar, cartilhas velhas envernizadas como se estivessem a sair do prelo, no encalço da liderança no campeonato de audiências.
As ásperas dissonâncias nos negócios, levam a os bem pagos mandaletes, novos e velhos, a suarem copiosamente nas tarefas de estender a passadeira às vedetas quantas vezes ignaras e loquazes no disparate na ausência de guião ou ponto escondido não no fosso da orquestra sim no minúsculo ecrã de maquinetas de envio e recebimento de instruções, mensagens de enquanto decorre o debitanço palavroso das gralhas e dos papagaios. E, públicos?
Ora, os públicos interessam cada vez mais no índice de audiências, para lá disso cada canal divide o bolo conforme lhe é propenso ao lucro, os generalistas recorrem às novelas, às receitas de faca e alguidar, ao cada vez mais asfixiante desporto-rei, acrescentando as «dádivas» à hora do almoço. Porque há horas felizes as chamadas de valor acrescentado escorrem pingues lucros cujo custo são os salários dos apresentadores e suas equipas. Os canais por cabo misturam sensacionalismos políticos e futebolísticos de segunda-feira a segunda-feira não sendo absurdo falarmos em alienação continuada a explicar na prática o conceito de ópio do povo.
De uma forma ou outra, o poder e suas ramificações sabem quão fundamental é a influência da televisão no forjar um político, seja para o bem, seja para o mal, nem o Professor Marcelo escapa ao chamamento cujos assessores têm o cuidado de fomentar, os seus assessores nesse nicho de preparação do êxito são oriundos da RTP, SIC e TVI, sem esquecer os da rádio e imprensa escrita, além da tarefa de tudo registarem acerca do Presidente preparam as entrevistas, os apartes, os improvisos e os afectos. Nada pode escapar, o professor Marcelo não dança fora do palco, não gosta de improvisos/improvisados, se ele é bom profissional os seus colaboradores também têm de o ser. O poeta Pedro Mexia é claro exemplo de tal eficácia.
O manto diáfano da fantasia encobre a nudez forte das gordas transacções em perspectiva a aguçarem os gorgomilhos dos facilitadores, caso da venda da TVI, do enfraquecimento da SPOTTV, e da possibilidade de concentrações na COFINA. A TVU tem reforçado a equipa, a SIC idem aspas, a RTP não ficou a ver os comboios parados à espera de empurrões, a estatal até tentou ser adversária dela própria abraçada aos chineses. E o público?
O público tem pão e circo até um cão beber água de pé em época de seca, a Altice, a Vodafone, a MEO e a NOS vão distribuindo cartas, o jogo ainda não principiou, o inicial do tempo de Sócrates liquidou a PT, antes tina sido a gora OPA, agora alguns protagonistas treinam cara de póquer, outros procuram marcar as cartas. O croupier convida a apostarem. Os jogadores mais temíveis já apostaram. Em breve veremos quem ganhou. A bolada de muitos milhões tenta fundos discretos parentes dos abutres e tubarões, a banca portuguesa já não é portuguesa, os milionários portugueses estão arrimados à cortiça, à distribuição e pouco mais. Iremos ter uma surpresa? A ver vamos como diz o cego!

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