A opinião de ...

Amar a nossa terra valorizar o interior

Orgulho-me de ser transmontana. Sempre que posso, correspondendo ao apelo telúrico, lá vou eu rumo ao Norte revisitar a nossa terra e a nossa gente, à procura de “momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e incomparáveis”, como escreveu Pessoa.
A minha terra é mais importante que quaisquer outras. E o Douro é o mais belo rio, não apenas por ser o rio que corre na minha terra, mas por ser um deslumbramento para os sentidos, com as margens cobertas de vinhedos, “a mais vasta e imponente obra humana do território português”, segundo Orlando Ribeiro. Por tudo isso e o mais que a sensibilidade capta e porque a minha rota de crescimento pessoal cedo me desviou da terra que me viu nascer, todas as oportunidades são boas para recordar os lugares onde fui feliz e que moldaram o meu ser e a minha forma de ver e estar.
Viajei, perdi países…visitei os cinco continentes, encontrei outras terras, outras gentes e outras línguas, descobri a extensão do mundo e a complexidade da vida. Mas estou com Garrett: nenhuma viagem se compara às viagens na minha terra.
Estes pensamentos ocorreram-me ao ouvir o bispo de Viseu, no funeral do meu amigo Jorge Coelho em Mangualde, recordando o grande investimento empresarial que ele fez com o objetivo de valorizar o interior e numa clara demonstração de amor à sua terra. Recordei, também, que foi durante os governos dos primeiros-ministros socialistas António Guterres e José Sócrates, homens com raízes nos territórios do interior, que mais investimento foi feito para desenvolver as nossas terras. As estruturantes vias A23, IP2, IC5, A4 (túnel do Marão) encurtaram distâncias e aproximaram as populações mais isoladas. Condições essenciais ao desenvolvimento, à captação de investimentos, à criação de emprego, à fixação de recursos humanos, à melhoria dos serviços públicos e à inovação tecnológica.
Agora, abre-se uma nova janela de oportunidade. É preciso aproveitar bem as potencialidades do Plano de Recuperação e Resiliência (PPR) e da Estratégia Portugal 2030 e respetivos envelopes financeiros, que o atual governo liderado por António Costa já debateu publicamente e aprovou e que aguardam a ratificação europeia e a disponibilização dos correspondentes fundos para se fazerem os investimentos estruturais de que a região necessita para sair da crise pandémica e ultrapassar as crises económica e social dela resultantes. As prioridades definidas por Bruxelas são a ação climática e a transição digital. Sem esquecer, obviamente, a formação, a modernização da administração pública e empresarial, assim como as ligações que favoreçam a mobilidade transfronteiriça e a redução de custos de contexto, o ordenamento florestal e o cadastro da propriedade rústica. Tendo como meta um interior mais justo e resiliente, mais sustentável e mais competitivo. Só promovendo a coesão territorial e social se pode “recuperar Portugal, construindo o futuro”.

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3829

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