A opinião de ...

Liberdade para votar

Este é o ano que admite todos os adjetivos. Singular, sem dúvida, e carregado de simbolismo. O cinquentenário do 25 de Abril é um marco histórico que merece celebração. Meio século de democracia exige avaliação e compromisso. Mas 2024 anuncia-se movediço, problemático e desafiante, aquém e além fronteiras.
Comecemos pelo mundo à beira da desordem e em guerra. A invasão da Ucrânia pela Rússia perfaz dois anos de destruição e morte. O ataque terrorista do Hamas contra Israel a 7 de outubro e a implacável resposta israelita já fizeram muitos milhares de vítimas civis, incluindo crianças. Conflitos armados alastram pelo Líbano, pela Síria, pelo Iraque, pelo Iémen… tornando mais difíceis de percorrer os caminhos da paz.
A barbárie espalha-se como óleo derramado, alimenta-se no discurso de ódio que infeta as redes sociais, conspurca a família, a escola e as instituições, supostos portos seguros para abrigar os mais frágeis e desamparados. As notícias e as imagens pungentes e tenebrosas, diariamente divulgadas pelas televisões, impelem-nos a acreditar que o Relógio do Apocalipse não é apenas metáfora, mas um sério sinal da nossa irracional corrida para o precipício. O mundo está mesmo muito perigoso.
Este é um ano de incertezas. Há demasiados “se” a condicionar o futuro da Humanidade. Se Donald Trump for eleito presidente dos Estados Unidos da América, o mundo vai ficar virado do avesso. Se Putin vencer a Ucrânia, haverá mais invasões e guerras. Se, nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, a extrema-direita for a terceira força mais votada, o que vai sobrar do projeto europeu gizado por Monnet e Schuman? Se as redes sociais e a inteligência artificial, sem regulação nem controlo, forem usadas para condicionar e subverter resultados eleitorais, como já aconteceu no passado recente com a eleição de Trump e Bolsonaro, o que resta da democracia?
Estas são razões que tornam as próximas eleições decisivas. Há motivos de sobra para procurarmos que cada voto resulte de informação segura, do conhecimento do programa eleitoral de cada força política e da sua exequibilidade, da credibilidade dos candidatos, da confiança que cada líder merece, da ponderação dos prós e contras das possíveis alianças pós-eleitorais…O voto livre e ponderado é um direito e um dever. Muitos foram perseguidos, presos e mortos na luta pela consagração do sufrágio universal. Nem sempre houve liberdade para votar.
Ó mulheres da minha terra, não se esqueçam de que só depois do 25 de Abril nos foi reconhecido o direito ao voto. E o direito ao divórcio. E o direito a partilhar as responsabilidades parentais. E o direito a exercer qualquer profissão sem restrições, incluindo a diplomacia, a magistratura e o poder local. E a contrair matrimónio sem autorização familiar. Abril desbravou a todos e todas os caminhos da Liberdade e da Democracia e assegurou o direito à educação e à saúde. Para as mulheres foi um novo mundo que se abriu. Conhecer o que era Portugal antes do 25 de Abril e quem foram os e as obreiras das grandes transformações sociais, civilizacionais, económicas e culturais, ajuda certamente a decidir o sentido do voto.
Ó jovens da minha terra, o tiktok e o Youtube podem ajudar a passar o tempo, apresentarem vídeos divertidos e situações apelativas, mas também espalham a mentira, distorcem a verdade e promovem a violência. Não se deixem enganar. Liberdade e responsabilidade devem caminhar de mãos dadas.

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