A opinião de ...

Fantoches, Palhaços e Trampolineiros

Na semana passada, foi notícia um pouco por todo o mundo, com direito às manchetes dos jornais e à abertura dos telejornais a “aventura” de quatro meninos endinheirados e de bem com a vida que, talvez porque não tinham sarna para se coçarem, resolveram arvorar-se em astronautas de meia tigela e gastar a módica quantia de vinte e tal milhões de euros cada um para efetuarem uma viagem com a duração de poucos minutos, durante a qual percorreram cerca de cem mil quilómetros, o suficiente, segundo eles, para terem o direito de figurar na restrita lista dos modernos exploradores do espaço.
Sem deixar qualquer dúvida a ninguém, pela minha parte, nunca tive, não tenho e nunca terei nada a ver com a vida de ninguém, e muito menos ainda se têm muito ou se têm pouco dinheiro.
Muito menos ainda, estou preocupado pela forma como o juntam, como o gastam, se o guardam ou se o jogam, se o malbaratam ou se o escondem em casa dentro do colchão ou se o exportam para os paraísos fiscais duma qualquer ilha perdida na imensidão dos oceanos, nem sequer concordar ou deixar de concordar por fazerem do que é seu o que lhes der na real gana.
Nessa mesma ordem de ideias, também não hipoteco, nem nunca hipotecarei a ninguém nem a qualquer preço, o meu direito à indignação que, neste como em tantos outros casos semelhantes, mais do que manifestações saloias de vaidade, ostentação e jactância, são fruto da cretinice duns tantos indivíduos, felizmente poucos que, nesta fase dramática da pandemia que continua descontrolada e imparável, para alimentarem o seu ego e o seu amor próprio, sem respeito por nada nem por ninguém, resolveram gastar milhões, o que para eles, muito provavelmente, poderá até nem passará duns míseros trocados sem peso nos seus opíparos orçamentos.
Se bem o pensaram, melhor o fizeram.
Vai daí, perante uma plateia variada de basbaques terráqueos extasiados e de olhos esbugalhado a olharem para eles, foi vê-los enfiarem-se num foguetão de curto alcance e partirem em direção às lonjuras do espaço para se divertirem brincando aos astronautas, ao preço escandaloso, mas para eles irrisório dos, imagine-se, cerca de cinco a seis milhões de euros pagos por cada minuto dessa sua ida ao espaço, sem se preocuparem com nada nem com ninguém.
Entretanto, enquanto falta dinheiro para investir na investigação e na produção de vacinas ao alcance de todos, milhões de crianças continuam a aumentar os astronómicos números duma orfandade que devia envergonhar toda a humanidade que, indefesas e privadas de tudo, continuam entregues a si próprias, vagueando sem rumo e sem esperança, a grande maioria da humanidade, sem se saber até quando, continua sem acesso à vacinação, único meio de travar a progressão dantesca do número de infetados e de mortos causados pela pandemia, para cúmulo da desfaçatez e do ridículo, outra equipa vai repetir a mesma gracinha.
Para este novo grupo de fantoches, palhaços e trampolineiros, apenas duas palavras: TENHAM VERGONHA!

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