A opinião de ...

Que humanidade queremos legar às gerações vindouras?

Dum meu trabalho recente sobre a solidariedade na antiguidade clássica antes da era cristã, extraí um pensamento de Plauto e outro de Terêncio (escritores romanos daquela época) que, apesar da sua antiguidade de mais de dois milénios, mantêm todo o sentido e toda a atualidade, nestes dias conturbados que vivemos que ameaçam fazer desabar todos os princípios e valores de referência que proporcionaram as condições para o aparecimento, posterior desenvolvimento e consolidação das sociedades e das civilizações modernas.
Pela capacidade única de síntese das línguas clássicas, vou citá-los também em latim , a sua língua de origem:
I -“ Homo homini lupus” ( O homem é um lobo para o próprio homem)
Plauto na obra “Asinaria”, II,a.88);
2 -.“Homo sum: humani nihil a me alienum puto” (Sou homem: nada do que é humano me é alheio) Terêncio – em “O homem que se castiga a si mesmo”, I, 1, 25);
Em muitas traduções, em sentido figurado e mais ou menos livres, estes pensamentos têm sido citados vezes sem conta em estudos sobre o conceito de solidariedade nas sociedades de então, destacando-se nitidamente no pensamento de Plauto a crítica contundente ao sentimento antissocial e de mau relacionamento entre os homens de então, enquanto Terêncio, bem pelo contrário, faz a apologia e enaltece a importância e o valor da solidariedade entre os homens.
Passados tantos anos, até parece que nada mudo.
A humanidade está cada vez mais condicionada pela gravíssima crise de identidade que ela ajudou a criar e a crescer, da qual já perdeu o controle, crise essa que agora só poderá ser ultrapassada e revertida se forem feitas as escolhas certas e tomadas as decisões necessárias, antes que os homens, irremediavelmente, se transformem numa nova estirpe de lobos vorazes e insaciáveis, sem respeito por nada nem por ninguém.
De contrário, porque a situação já não é nada fácil e o perigo é bem real, bem mais cedo do que se possa imaginar, à semelhança do que aconteceu no Afeganistão, do dia para a noite, o mundo civilizado e, muito particularmente Europa e o mundo ocidental, correm sérios riscos de serem invadidos e subjugados por grupos armados de terroristas fanáticos, selvagens e sanguinários, que a única coisa que sabem fazer é espalhar o terror e a morte.
É bom não esquecer que estes grupos, na sua quase totalidade, são autenticas hordas de vândalos à solta, ao serviço de teorias absurdas e totalitárias, facilmente manipuláveis por gente cruel e vingativa, sem princípios, sem moral, sem vergonha e sem respeito pelos outros, gente para a qual os direitos e a vida dos outros não significam nada nem tem qualquer valor e que, à semelhança do que neste preciso momento estão a fazer no Afeganistão, são capazes de todas as atrocidades, exercidas especialmente sobre os estratos mais frágeis e indefesos da sociedade, como os doentes, os idosos, os pobres, as mulheres e as crianças.

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