A opinião de ...

Abril em Novembro

Os principais representantes do Povo Português – e, provavelmente, mais de 70% dos portugueses, celebraram hoje o «25 de Novembro» de 1975, aos 49 anos da sua ocorrência. Ao tempo, estava em causa uma resposta dos responsáveis pela marcha da «revolução» a uma tentativa de golpe para consolidar a via socialista soviética (da antiga Rússia de antes de 1990) da mesma «revolução».
Estão por descobrir os responsáveis dessa tentativa de golpe em 22-11. Ao tempo em que eu estava na tropa (de 1973 a 1976), no Regimento de Comandos, falava-se de Otelo S. Carvalho e Carlos Fabião, os generais demitidos dos seus cargos pelo Presidente Costa Gomes, dois dias antes do referido golpe, sob ultimatum dos Comandos, mas nunca consegui (nem, pelo visto, ninguém) apurar com verdade essas responsabilidades. Certo é que ambos eles faziam parte do grupo da liderança da ala extremista comunista do MFA (Movimento das Forças Armadas) à qual se opôs, a partir de 8 de Agosto de 1975, o conjunto dos militares democratas «moderados» guiados pelos oficiais do «Grupo dos Nove», assim chamado por terem sido nove os oficiais que assinaram o primeiro documento a chamar a atenção para o desvio marxista -leninista da «Revolução».
Portanto, tratava-se, para os militares responsáveis pelo país, quase a entrar em guerra civil, regressar ao espírito do «25 de Abril», nem que fosse pela via da força, pois, tal espírito já estava legitimado pelo voto popular desde 25 de Abril de 1975, data da eleição dos deputados constituintes.
Do lado contrário, era vontade dos extremistas e militares da extrema-esquerda anular o movimento de moderação iniciado, começando por impedir que a Assembleia Constituinte realizasse o seu trabalho de elaboração e aprovação da Constituição. Não se esqueça ainda que os peões em briga não eram só os moderados e os extremistas de esquerda já que havia, sobretudo no Norte e no Centro do País, gente ligada ao Antigo Regime, a querer regressar à ordem deste, aproveitando-se da «Maria da Fonte anti-comunista» que varreu o país de Norte a Sul.
Prevaleceu a camaradagem e a amizade entre os militares que fizeram o «25 de Abril» já que elas permitiram que os da ala revolucionária pêcepista depusessem as armas perante o Presidente da República. Acredito mais nesta tese do que na rendição militar pois os líderes, que eu ajudei a transportar para o «lugar dos vencidos», se apressaram a dizer «que não queriam uma guerra entre irmãos» (Dinis de Almeida, 25 de Novembro de 1975, 06h00, em Monsanto).
Assim, não existe um verdadeiro espírito do 25 de Novembro mas apenas a recuperação do do 25 de Abril. Nesta recuperação, perderam a Extrema-Esquerda e a Extrema-Direita. A Extrema-Esquerda tendo por trás o PCP. A Extrema-Direita tendo por trás os sectores mais conservadores da Igreja Católica, dirigidos pelo Cónego Melo, de Braga, e o MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal), dirigido por António de Spínola e por Alpoim Calvão.
Assim se compreendem os azedumes de uma e de outra contra o 25 de Novembro.

Edição
4014

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