A opinião de ...

Desconfinar? Sim, mas devagar

À falta de vacina, de imunidade de grupo e de tratamento eficaz é necessário adotar as melhores práticas para conviver com o coronavírus porque, independentemente dos resultados positivos obtidos, um pouco por todo o lado, está aí, não se foi embora nem está de partida. Estando posta de lado, e bem, a opção de confinamento total é necessário adequar a atuação à situação. O que, não sendo impossível, não é fácil. Há dois fatores nesta pandemia que dificultam muito a determinação das ações mais adequadas: o período de incubação e o elevado grau de contaminação. Embora tenha de ser condicionada pela observação da realidade, a estratégia de combate não pode ser apenas reativa, mas proativa porque o que quer que se faça hoje, só se tem a noção real da dimensão, passada a dezena de dias que o vírus leva a manifestar-se. A facilidade de propagação obriga a uma vigilância apertadíssima pois um simples caso não controlado facilmente se tornará num foco infecioso.
Apesar do período relativamente pequeno que a pandemia já leva, entre nós, há, no que respeita à sua evolução, casos típicos e bem diversos.
É possível realizar eventos envolvendo muitos participantes e uma logística complexa de forma absolutamente segura e fiável. A volta à França, terminada recentemente, é disso, um dos melhores exemplos. Mas também é bom entender que os possíveis bons resultados não constituem qualquer salvo-conduto para o futuro. O que aconteceu na Croácia demonstra-o. Aquele país dos Balcãs foi o campeão europeu na primeira vaga da Covid tendo obtido o almejado número zero de infeções diárias. Colheu, naturalmente, os louros de tal privilégio – aparecendo no topo das listas de países seguros como destinos turísticos. O fim do confinamento e o alívio das anteriores restrições foi dramático. O relaxamento do distanciamento social, nas zonas turísticas, atraíram um elevado número de pessoas provenientes de vários países europeus, algumas, obviamente, infetadas, mesmo que assintomáticas e fez desses locais pasto fértil do agente patogénico que se reproduziu e dispersou por vários países europeus, como a Alemanha e a República Checa. Por outro lado, segundo dados existentes (que, podem mudar a qualquer momento) o norte de Itália que foi a região mais martirizada do início da pandemia, apresenta bons resultados e um regresso que, sendo cauteloso é também relativamente seguro. Preocupada (em demasia, como agora se pode facilmente constatar) com a perda de receitas turísticas, a vizinha Espanha (apressadíssima na abertura de fronteiras e agressiva na captação de visitantes externos) está a pagar, amargamente, a pressa com que quis regressar à normalidade.

Há ainda muito para aprender sobre este vírus e sobre a doença associada, como todos os especialistas têm, repetidamente, afirmado. É com a experiência e as descobertas científicas que temos de contar para ir ajustando a estratégia e o roteiro de atuação, para os próximos e difíceis dias que ainda temos pela frente muito antes de cantar vitória. Pode acontecer que, perante um opositor tão agressivo e especial, não seja suficiente a análise segundo o modelo clássico SEIR cujo acrónimo resulta dos quatro critérios que lhe estão na base: Suscetibilidade; Exposição; Infetados e Recuperados. Há quem defenda um modelo bem mais complexo e alargado, subdividindo cada uma destas quatro categorias em várias outras, em número muitíssimo maior e variável de acordo com as diferentes regiões e o historial da doença nesses locais e nos tempos mais recentes.

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3802

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