A opinião de ...

Espelhos e Janelas

Alexandre Quintanilha, cientista, fundador do IBMC, no Porto e deputado socialista, em discurso recente, na Assembleia da República, apontou a mentira como o maior inimigo da democracia. Sobretudo nos momentos de crise porque a mentira é sempre assertiva, nunca tem dúvidas e, sobretudo, porque se baseia na ignorância e explora as fragilidades de quem a ouve. É ainda muito perigosa porque esconde interesses poderosos, políticos, ideológicos e económicos.
A mentira é uma arma poderosa usada, muitas vezes com enorme eficácia, por políticos de baixa qualidade, para atingirem os seus fins que, se se expusessem à verdade e realidade dos factos e evidenciassem as suas verdadeiras capacidades, nunca os alcançariam. O recurso à falsidade é tentador, por ser muito eficaz, sobretudo quando usado em grupos de menor exigência porque quem mente, convictamente, fá-lo de forma categórica sem preocupação em justificar e demonstrar as suas afirmações. Faz parte da génese das suas afirmações. Como afirmava Bertrand Russel, ao contrário do conhecimento que esta cheio de dúvidas e incertezas, a ignorância e o radicalismo está cheio de certezas e convicções.
Por alguma razão as ditaduras promovem o obscurantismo e sustentam a sua permanência na proibição da divulgação livre das opiniões críticas e divergentes das “verdades oficiais”. A promoção do conhecimento, do pensamento crítico e da educação, são as melhores armas da Democracia.
Foi, igualmente, Alexandre Quintanilha que afirmou que educar é transformar espelhos em janelas. Porque o ignorante, o mentiroso e o radical, quando falam e propalam as suas “teorias” fazem-no, em frente ao espelho. Em tudo o que dizem, promovem e anunciam é apenas uma imagem de si mesmos, das suas convicções e do ambiente que os rodeia e, por isso mesmo, mais lhes convém divulgar e arregimentar apaniguados para ele. Educar é destruir espelhos, abrir janelas, no seu lugar, trazer para o ambiente de cada um, não a sua própria imagem, mas a diversidade do mundo, as diferenças de cada um e, por isso mesmo, as incertezas e as dúvidas naturais do conhecimento e da realidade. Porque a verdade, tal qual a podemos perceber e entender, raramente é feita de certezas. A verdade absoluta só existe no campo religioso e só se alcança através da Fé. A verdade inquestionável, duradoura, definitiva não nos chega pela investigação, pela educação e pelo conhecimento. Este caminho árduo, mas útil vai permitir de forma eficaz e consistente a diminuição contínua e irreversível da incerteza e da dúvida.

Ver, o reflexo da nossa imagem, diariamente, na quietude e remanso matinal, pode ser tranquilizador, natural e confortante. Mas tal não implica que para manter a autoconfiança, segurança e bem estar, tenhamos que fechar todas as persianas e correr todos os reposteiros da casa. E, muito menos, não passará pela cabeça de ninguém quando decidir iniciar uma viagem, rotineira ou singular, para perto ou para longe, substituir as janelas e o para-brisas da viatura por espelhos por melhores e mais sofisticados que estes possam ser!

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