A opinião de ...

As máscaras da democracia

O coronavirus SARS-CoV-2 apareceu, vindo da China, subitamente, com intuitos, aparentemente democráticos. Infetava, indiscriminadamente, ricos e pobres, asiáticos, europeus, africanos e americanos. A nação mais rica do Mundo foi fustigada com força instalando-se com grande aparato e à-vontade na elitista Nova Iorque obrigando a elite mundial a vergar-se perante as suas indiscriminadas invetivas. O distanciamento social e o fecho da atividade económica foi universal. O destino imediato das glamorosas lojas de luxo dos Campos Elísios de Paris foi o mesmo da loja de ferragens de uma vila de província espanhola ou portuguesa. As mortes arrasaram o norte italiano, rico e industrializado e a disseminação viral teve vários focos nas caras e seletivas estâncias de ski alpinas. Em Portugal, a Covid-19 irmanava na morte, Mário Veríssimo, o ex-massagista do Estrela da Amadora e António Vieira Monteiro, presidente do Conselho de Administração do Santander-Totta. Ninguém duvida da enorme diferença de recursos de cada um deles e, contudo, morreram ambos por escassez de um bem comum, abundante e gratuito: ar! Por este país, chegam às sempre ambicionadas câmaras de televisão, autoridades nacionais e regionais, cientistas e opinadores, ministros e presidentes de Câmara. Chegam as máscaras a taparem os rostos adicionando fatores de igualdade e similitude. Várias autarquias as distribuem (ou vendem a preços subsidiados e controlados) de forma generalizada e de acesso universal.

E pronto.

Ficaram por aí os intentos socializantes do agente patogénico. Aliás, começou aí a diferenciação que, rapidamente, se instalou e começou a diferenciar os cidadãos atingindo os mais humildes, frágeis e pobres, poupando e distinguindo os mais fortes, poderosos e ricos. O vírus que apanhou boleia nas elites, viajou de avião, em classe executiva, estanciou nos Alpes e dormiu em Hotéis de cinco estrelas mas, rapidamente se alojou nos bairros mais pobres e se misturou com os mais desfavorecidos. O confinamento estabeleceu logo uma diferença abissal entre os que se refugiavam nas suas habitações, com dispensa recheada e rendimento garantido ou acautelado e os que tinham de regressar às casas degradadas, à convivência inapelável, à procura de sustento diário e precário, à inevitável deslocação para os terrenos onde a pandemia se instalara.
As máscaras, foram, desde logo, motivo usado por alguns para, por ação e omissão, marcarem a diferença. Desde logo, na sua utilização. São inúmeros os exemplos conhecidos e divulgados da sua deficiente utilização. De forma tão mais errada quanto menor é a condição social de quem as usa. E tal não é condição de riqueza ou pobreza. Trata-se apenas de uma questão de informação devida e acautelada. Os promotores das distribuições massivas que, diligentemente, anunciaram e promovera tais ações, na imprensa e nas redes sociais, com a respetiva fotografia, não cuidaram de ir mais além. Não explicaram a razão da necessidade de cobrir as vias respiratórias. Coisa simples, mas muito menos mediática do que a fotografia sorridente e “generosa” da distribuição do que, em muitos casos, lhes caiu nas mãos, fruto do altruísmo popular e anónimo.

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