A opinião de ...

O inocente e o suspeito

José Sócrates continua inocente, até que um tribunal, eventualmente determine o contrário (ou, porque não, confirme e decrete a sua inocência). Luís Filipe Vieira, é e continuará suspeito e indiciado de vários crimes enquanto não for ilibado, podendo sê-lo, a qualquer momento (mesmo antes da publicação desta crónica).
António Costa foi ministro no governo de José Sócrates e, enquanto tal, foi muito próximo do Primeiro Ministro não se lhe conhecendo qualquer deslealdade ou falta de apoio convicto à liderança do seu correligionário. É, aliás, do conhecimento de todos a proximidade entre ambos que culminou com a saída combinada do atual chefe do Governo do lugar de Ministro de Estado e da Administração Interna para satisfazer o desejo de José Sócrates de reconquistar, para o PS, a Câmara de Lisboa após a demissão de Carmona Rodrigues. Quando o amigo foi acusado e preso preventivamente, em Évora, reclamando a sua inocência e protestando tratar-se de estar a ser vítima de uma cabala política para prejudicar o seu partindo, reivindicando, por isso, a solidariedade da estrutura partidária... António Costa, não o acusando de nada, não o ostracizando nem tecendo quaisquer comentários valorativos sobre o assunto, distanciou-se e não atendeu a exigência do seu camarada.
O atual Secretário Geral nunca exerceu, tanto quanto se saiba, qualquer cargo diretivo, ou outro, no Benfica sob a presidência de Luís Filipe Vieira. Este não veio a público reclamar qualquer apoio, abono ou compromisso. E, contudo, o Primeiro Ministro deu-lhe apoio, abonou a sua recandidatura e comprometeu-se com o seu provável próximo mandato.
Porque o cidadão António Costa, enquanto tal, é adepto e sócio do Benfica.
E não é simpatizante e militante do Partido Socialista?
Ao contrário do que aconteceu com o seu camarada e colega de longos anos, ninguém lhe veio perguntar (saindo ou não de trás de um carro) se acreditava na inocência de Vieira, nem se ia ou não tornar pública a sua opinião sobre o assunto. Sendo um erro tão clamoroso, como é unanimemente reconhecido por todos os que já se pronunciaram sobre o assunto e sendo-lhe creditado tão elevada capacidade de análise e consequente acção política (como aliás bem demonstrou nos últimos anos) fica a pergunta: porque o fez então?

Muito se tem falado no erro e na fatura que António Costa terá de pagar, no futuro, por este compromisso com um dirigente desportivo a contas com a justiça. Não é isso que me perturba, pois é sabida a facilidade com que políticos experientes (como é o caso do Primeiro-Ministro), se desfazem de amizades incómodas e deixam cair apoios quando estes perdem interesse. O que me inquieta é, pelo contrário, o que é que no passado possa ter acontecido que tenha empurrado o líder do PS (e um dos seus delfins) para uma situação, obviamente, inoportuna e constrangedora.

Nota: o facto de Luís Filipe Vieira ter “dispensado” o apoio do Secretário Geral do PS, não desagrava, de forma nenhuma, a situação. Pelo contrário torna-se ainda mais incómoda...

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