A opinião de ...

Visão política

Não fui nem sou apoiante de Pedro Santana Lopes. Mas, mesmo não lhe identificando capacidade para liderar os destinos da capital e, muito menos, os do país, não se pode ignorar o seu óbvio “faro político”, a sua natural intuição e, sobretudo, a sua brilhante inteligência que, aliás, lhe foi, justamente, reconhecida por Sá Carneiro. A propósito da sua candidatura, independente, à Câmara da Figueira da Foz deu, recentemente, na SIC, uma verdadeira lição que deveria ser devidamente escutada e analisada pelos candidatos que, nesta altura, pululam por este nosso Portugal.
Diga-se o que se disser, o antigo líder social-democrata foi, na Figueira, um autarca competente. No estrito sentido que, ao contrário de muitos outros, cumpriu com a promessa que fez. Propôs-se colocar a Figueira no mapa e isso, efetivamente, aconteceu! Foi de tal forma eficaz que o seu slogan foi repetido, mais tarde, diversas vezes, por muitos outros candidatos.
Santana tem, obviamente, orgulho e vaidade no que fez mas, ao contrário de muitos, bem menos dotados, em vez de repetir a receita, mesmo levando em linha de conta a eficácia do passado, não renegando e assumindo tudo quanto realizou, não se ficou por aí. Apesar de não haver, estruturalmente, grandes diferenças primordiais no concelho, cujo principal ativo passa pelos recursos naturais, potenciadores do turismo, os tempos são diferentes e, em alguns aspetos, muito diversos, sobretudo na época especial que vivemos! O que sendo relevante não está, infelizmente, a ser percebido por tantos candidatos

Obviamente que a gestão autárquica não pode ignorar os problemas tradicionais de saúde, emprego e apoio ao comércio local. Mas ficar por aí é redutor. Neste século XXI, não se pode passar ao lado da ecologia, alterações climáticas e, como recentemente ficou provado, da Transformação Digital. É incompreensível como este não é, salvo raras exceções, um dos temas estruturantes daqueles que querem liderar e modernizar as respetivas autarquias. A digitalização da vida é uma realidade inelutável. Quem o não fizer vai condenar as respetivas instituições e comunidades a ficarem na cauda do desenvolvimento, da educação, da arte e, como é cada vez mais óbvio, da própria saúde. Este é um dos pilares do novo mundo e, em altura de grandes investimentos europeus, perder esta oportunidade é quase criminoso. Com a agravante de que neste domínio podem facilmente esbater-se barreiras geográficas que tanto penalizam, noutras áreas, o interior. Pedro Santana Lopes percebeu isso muito bem e adaptou-se. Mas o antigo Primeiro Ministro não se contentou com isso e não deixou de colocar, em cima do bem recheado bolo, a mais preciosa cereja da atualidade: a ciência!
Promete (e concretizará, tenho a certeza) não um, mas dois centros de investigação.
Ah, dirão, mas ele conta, para isso, obviamente, com a colaboração do vizinho Instituto Politécnico de Leiria. E bem. Porque estes empreendimentos para serem sustentáveis têm de ter uma instituição de qualidade a suportá-los, cientificamente. Mas o melhor Instituto Politécnico português e um dos melhores da Europa não está no litoral.
Está no interior, em Bragança!

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