A opinião de ...

Escritores de Pedestal

Portugal, além de outras suas notáveis personalidades, colhe particular orgulho nos poetas e prosadores, tanto mais que muitos deles ombreiam com os melhores do mundo. É natural, pois, que lhes reserve espaços condizentes com o mérito de cada um, de forma a que todo e qualquer cidadão os possa admirar no pedestal que para um e outro deverá estar reservado.
Também hão de fazer parte desse pedestal alguns dos melhores versos e períodos de prosa suscetíveis de serem facilmente compreendidos pelo povo que os irá ler, mas de mensagens tão fortes que façam consolidar a altivez do cidadão.
Haverá, por certo, lugares criteriosamente escolhidos em que sejam visíveis pela maioria possível das pessoas que transitam e também daquelas que descansam.
Passemos, então, em revista alguns daqueles que ombreiam com os melhores do mundo.
E comecemos pelo nosso Épico Luís de Camões, o qual em dez cantos e maravilhosas oitavas de versos de dez sílabas, deu a conhecer, não só a extraordinária e corajosa viagem de Vasco da Gama à Índia, como, na sequência, a história de Portugal.
No seu tão conhecido e escrutinado livro “Os Lusíadas”, há descrições que são autênticos quadros que nos maravilham, há narrações que exaltam o povo português, há os deuses do Olimpo e o Deus criador do Céu e da Terra, a valentia, a coragem e os amores dum povo que se fez à aventura, ora perdido nas ondas do imenso oceano, ora navegando suavemente na sua planura límpida e calma, sem desanimar nem perder o rumo que traçou e havia de o levar a terras do Oriente, onde foi colher as especiarias e a cultura doutros povos, para dá-los a conhecer ao Ocidente.
Enquanto isso, levou para estas terras a cultura do Ocidente e os valores da cristandade, divulgou por todo o mundo a coragem e a heroicidade dum povo cuja vocação tanto se enquadrou na sua posição geográfica, como que obrigado a iniciar e prosseguir a sua rota do descobrimento de caminhos marítimos, porque fortemente impedido de se expandir por terra.
Mas, porque o autor conheceu estas tormentas marítimas que tão exemplarmente deu a conhecer, não deixou de compensar tão valente heroicidade, ao criar-lhe, na viagem de regresso, a Ilha dos Amores, onde puderam descansar e usufruir das delícias que ali foram encontrar.
É também conhecida a coragem com que o autor, durante um naufrágio, estoicamente conseguiu salvar o manuscrito do tão valioso livro cuja mensagem superficialmente abordámos, e tão humilde como rudemente viemos recordar para exaltação de quem e para quem o escreveu. Não fora essa determinação e nunca poderíamos apreciar tão grande tesouro da literatura portuguesa.
Mas Camões não é conhecido apenas como épico. É também sobejamente admirado como dramaturgo e lírico. Como dramaturgo conhecemos três obras: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo.
Como lírico, são de mencionar, entre outros, os: sonetos (“Amor é um fogo que arde sem se ver”, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”; Canções (“Vinde cá, meu tão certo secretário”; redondilhas menores e maiores (“Aquela cativa, Sôbolos rios que vão”; as odes (“Naquele tempo brando”) …
É de homens como este que, além das aventuras e perigos por que passou, dos desamores que tanto o magoaram, ferido, ao combater pelo país, é de homens como este – repito – que Portugal tem de continuar a contar para que não abrande o ser reconhecido e respeitado, como merece.

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4047

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