Os sonhos suscitados pelas 12 badaladas
Este ano, cada uma das doze badaladas, no dealbar do Ano Novo, suscitou em mim uma aspiração profunda, um desejo, um sonho...
1. Sonho com uma Igreja que viva e respire o Evangelho de Jesus Cristo. Uma Igreja que dê corpo às palavras de Jesus Cristo com gestos concretos que traduzam a opção preferencial pelos mais pobres, a inclusão dos marginalizados e o acolhimento dos que andam longe;
2. Sonho com uma Igreja em que não haja qualquer distinção entre raças, culturas e sexos. Em que todos se descubram irmãos porque filhos do mesmo Deus Pai e Mãe;
3. Sonho com uma Igreja única, com um só Pastor, em que triunfe o ecumenismo. Em que todas as igrejas cristãs possam manter as suas tradições e especificidades sem pôr em causa a unidade de um corpo que se assume e vive como tendo Cristo por sua cabeça;
4. Sonho com uma Igreja menos monolítica e mais “poliédrica”, como defende o Papa Francisco, na qual seja possível viver diferentes percursos, tradições culturais e experiências eclesiais. Uma Igreja que não abafe o sopro do Espírito e em que se possam viver os diferentes carismas que Ele nela vai suscitando;
5. Sonho com uma Igreja profética, que não se deixe corromper pelos valores temporais que não são evangélicos. Que não se limite a defender a dignidade da vida humana desde a conceção até à morte natural, mas que denuncie todas as injustiças e todas as situações em que a dignidade humana não é respeitada;
6. Sonho com uma Igreja em que não triunfem, por regra, os “carreiristas” que o Papa tem denunciado. Uma Igreja em que todos assumem as suas responsabilidades como um serviço abnegado ao outro, em particular ao mais necessitado;
7. Sonho com uma Igreja que não invente razões teológicas para continuar a dificultar que a mulher possa assumir toda e qualquer responsabilidade no seu interior;
8. Sonho com uma igreja diocesana que seja referência, como acontecia quando tinha como bispo D. Abílio Vaz das Neves, entre 1939 e 1965, em que era visitada para comprovar como aqui estava organizada a catequese;
9. Sonho com uma igreja diocesana em que os presbíteros se assumam como irmãos do mesmo presbitério e que veem no seu bispo, não só o pastor próprio, mas também o pai que os congregue, os dinamize, os fortaleça e acorra às suas necessidades humanas e espirituais;
10. Sonho com uma igreja diocesana em que os leigos se sintam corresponsáveis pela missão da Igreja, de que fazem parte, e colaborem na construção de uma comunidade diocesana mais participativa e, por isso, mais dinâmica;
11. Sonho com uma igreja diocesana em que todas as comunidades se reúnam para viver o Dia do Senhor, seja com a celebração da Eucaristia ou da Palavra;
12. Sonho com uma igreja diocesana que invista decididamente na formação humana, espiritual, teológica e eclesial de todos os seus membros, para que sejam contemplativos ambulantes na construção da Igreja e cidadãos determinados a atualizar as suas potencialidades na edificação do Mundo.
Talvez estes sonhos pareçam irrealizáveis. Contudo, tal como António Gedeão, acredito que “o sonho comanda a vida” ...
Desejo-vos um ano de 2025 em que todos os nossos sonhos se realizem!