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CAPELA DO SENHOR DOS AFLITOS, BRAGANÇA! Elegância ao Serviço da Piedade Popular!

Atualmente integrada na Paróquia dos Santos Mártires/Unidade Pastoral da Senhora das Graças, está implantada paralela à ponte do Loreto sobre o rio Fervença. Assume-se a sua edificação em 1804, de acordo com placa existente no seu interior, à época fora da centralidade urbanística da cidade. Contudo, Luís A. Rodrigues (Bragança no Século XVIII. Urbanismo e Arquitectura, Vol. I) aventa a existência da Capela em data anterior, atendendo a testamento lavrado em 22 de Outubro de 1791 por «Maria José mulher de António Veiga», onde consta a vontade de deixar «hua missa a Senhor dos Aflitos», e a Planta da cidade de Bragança da autoria do Capitão Engenheiro Luís Gomes de Carvalho, de 1801. De grande piedade popular e funerante, a Capela foi parcialmente destruída por um incêndio em 1990, sendo restaurada quatro anos depois pelo arquiteto Nuno Moscoso. Manteve-se a traça exterior e o interior foi relativamente alterado.

A dois volumes diferenciados, correspondentes à nave e ao altar, está delimitada por adro murado, onde se ergue cruzeiro junto da entrada voltada a Norte. Em estilo barroco, a fachada principal, a dois corpos, está decorada a azulejo de padrão monocromo azul sobre fundo branco. O primeiro corpo, arrematado em dupla cornija e empena central, tem portal principal em arco abatido de dupla moldura recortada, rematado em chave, encimado por frontão, com volutas semicirculares, interrompido por cartela com flor-de-lis. Está enquadrado por três janelas retangulares de perfil curvo gradeadas. O corpo superior é em empena contracurvada e cobertura em gola, sobreposta por elegante cruz de Cristo, em resplendor. Ondulada, a extremidade superior dos pilares apresenta pináculos flamejantes, estando a sineira suspensa em armadura de ferro forjado, junto ao da esquerda. Nas restantes fachadas, rebocadas e pintadas de branco, a da direita tem portal de acesso ao interior, em arco abatido, e na posterior, semicircular, existem seis pontos de entrada de luz de diferente amplitude.

No interior, a nave, retangular, sobrelevada e longilínea, tem o tramo inferior das paredes revestido a azulejo, e o teto apresenta formato côncavo, separado das paredes, rebocadas e pintado de branco, por cornija de granito. No lado do evangelho situam-se escadas de madeira para acesso ao coro-alto, com balaustrada também de madeira. O janelão ostenta um bonito vitral alusivo à Santíssima Trindade e ao Imaculado Coração de Maria, com a frase «Graça e Misericórdia». A nave é separada da área do altar por arco triunfal de volta perfeita em granito, arrematado em chave. Três degraus conduzem à abside semicircular, onde constam a mesa das celebrações ao centro, pedestal cúbico de exposição do Santíssimo à direita e o púlpito à esquerda, em mármore polido. A cabeceira é revestida a madeira almofadada, com porta na extremidade esquerda para acesso à sacristia e, na direita, para o vão superior. Este, em arco de volta perfeita e representativo do Calvário, acolhe as imagens que notabilizam a espiritualidade da Capela: ao centro, assente em três degraus de mármore polido em ascendente piramidal, domina a representação do Senhor dos Aflitos; do lado direito a bonita imagem, de generosas proporções, da Virgem Maria com Jesus morto no colo (Pietà). Nas paredes laterais apreciam-se dois vitrais de 1942, o do lado do evangelho alusivo a Santo António com o Menino ao colo e o do lado da epístola com São José e o Menino pela mão.

A Capela apresenta-se como um testemunho da memória coletiva da cidade, dando conta de um passado que perpetua há mais de dois séculos as raízes devocionais ao Senhor dos Aflitos, da Paixão e Crucificação do Redentor da humanidade.

Exterior da Capela do Senhor dos Aflitos

Interior da Capela do Senhor dos Aflitos

Edição
3968

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