Editorial - António Gonçalves Rodrigues

Quando todos ficarem para trás, que país teremos pela frente?

Há quase um ano, a 19 de abril de 2020, o Papa Francisco dizia, na missa que assinalou o 20.º aniversário da instituição do Domingo da Divina Misericórdia, que “enquanto pensamos numa recuperação lenta e trabalhosa da pandemia, é precisamente este perigo que se insinua: esquecer quem ficou para trás”.
O Papa referia-se, em primeira instância, ao perigo de descartar os mais frágeis da sociedade. Mas, quase um ano depois, quando a pandemia e o novo coronavírus já se enraizaram na nossa vida de forma arreigada, as palavras do Papa Francisco estão mais atuais do que nunca.


Há de ficar tudo bem

Numa altura em que se vivem os piores dias de sempre em termos de contabilidade de casos e mortes provocadas pela pandemia que nos virou o mundo do avesso, não é fácil pensar que, findo o sofrimento, há de ficar tudo bem. Mas sim, vai ficar tudo bem.
Ao longo da História da Humanidade, o Homem viveu momentos mais ou menos trágicos, mais ou menos duros, de grande prosperidade e de enorme carência. E não foi por isso que a vida deixou de continuar.


O resultado esperado

Esta é uma crónica, infelizmente, anunciada.
Desde antes do verão que passou que se tem assistido a algum excesso de confiança das autoridades responsáveis que desembocou no segundo confinamento em menos de um ano.
No dia em que se cumprem exatamente dez meses desde o aparecimento do primeiro caso de covid-19 no distrito de Bragança, termina a pior semana destes dez meses, com mais de 800 casos novos, fruto, acreditam os responsáveis, dos ajuntamentos familiares por alturas do Natal.


Os efeitos que não se veem

Enquanto a vacina chega e não chega, não folgam as costas.
As recontagens que as autoridades de saúde do distrito de Bragança têm feito nas duas últimas semanas mostram-nos um cenário provocado pela pandemia muito mais negro do que aquele que vínhamos seguinte diariamente. São quase mais meia centena de mortes contabilizadas nestas duas semanas, que deixam a taxa de mortalidade acima dos dois por cento.
Mas estes são os efeitos mais visíveis e negros da pandemia. No entanto, muitos outros efeitos ficam por se ver e são igualmente nefastos.


Sair do modo 'pausa'

Estamos a apenas dois dias de deixar o ano de 2020 para trás das costas e, julgo eu, sem grandes saudades.
Há nove meses a nossa vida levou uma volta como poucos alguma vez julgaram possível.
No final de fevereiro, à margem do Conselho de Ministros descentralizado que se realizava em Bragança, a Ministra da Saúde começava a responder, pela primeira vez, a questões relacionadas com um novo coronavírus, que chegava da China mas que parecia tão distante quanto a pandemia da chamada gripe espanhola, que dizimou mais de cem milhões de pessoas no início do século XX.


A ignorância como alternativa

Ao longo dos mais de nove meses que levamos de pandemia no distrito de Bragança, muitas vozes se têm levantado contra as notícias sobre o percurso do novo coronavírus na região.
Muitas vezes, quem se insurge é porque tem rabos de palha e está, de alguma forma, comprometido. Outras vezes, trata-se apenas de ignorância.
Informação é sempre poder.
O Mensageiro tem acompanhado diariamente a evolução da situação no Nordeste Transmontano, onde nas últimas duas semanas se verificou quase a duplicação do número de casos.


O Natal defende-se agora

Nas últimas semanas, o número de pacientes infetados com o novo coronavírus sofreu uma redução considerável, sendo que, até segunda-feira, tinham recuperados mais do dobro dos novos casos (693 recuperados e 297 casos novos).
Estes números traduzem, numa primeira análise, o resultado das medidas de semi-confinamento a que vários concelhos do distrito de Bragança têm sido sujeitos.


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