A opinião de ...

O futuro planeia-se no presente

Em 1943, o Mensageiro de Bragança trazia à estampa notícias daquela que seria considerada a maior seca do século XX no Nordeste Transmontano. Durante dois anos, a região enfrentou vários problemas com a escassez de chuva que deixou os agricultores à beira do desespero.
Numa região em que praticamente todas as pessoas têm pelo menos uma hortinha no quintal e em que muita gente cultiva de forma um pouco mais intensa os terrenos que ainda vai tendo na aldeia, percebe-se como a falta de água afeta a generalidade da população.
Ainda não há muitos anos, a própria cidade de Bragança enfrentava cortes de água durante o dia nos meses de verão devido à escassez de água no abastecimento público.
O problema só começou, de facto, a ser resolvido depois de o complexo de Montesinho ser em grande parte executado no mandato de Luís Mina e concluído com a barragem de Veiguinhas no último mandato de Jorge Nunes.
Em muitas aldeias do distrito era habitual, até à década de 1980, os habitantes terem de se dirigir às fontes principais em carroças para levar água para casa.
Já neste século, os anos de 2005 (o de menor precipitação no século XXI), 2012 e 2017 foram anos de seca, com graves prejuízos para a agricultura transmontana.
Em 2017, por exemplo, quem não regou os castanheiros sentiu uma grande quebra de produção, que se antecipou em pelo menos duas semanas.
As primeiras castanhas foram apanhadas com o chão completamente seco e com temperaturas a rondar os 30 graus.
Isso foi há cinco anos. O que se fez desde então? À exceção das charcas que vão sendo construídas no meio rural pelas autarquias, nada.
Ora, começa a desenhar-se um padrão de seca a cada cinco anos. Tal como a história da cigarra e da formiga nos ensina desde pequeninos, é preciso amealhar em períodos de abundância para enfrentar os períodos de carência.
É urgente fazer avançar com os projetos de barragens que estão prontos na região. Falta a decisão do Governo central, que aponta sobretudo à criação de reservas de água no Alentejo. (Curiosamente, os maiores agricultores vivem na Grande Lisboa).
Mas há mais país e mais produções para defender. Há mais país para além de Lisboa.

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