A opinião de ...

Eu e o Papa I

Pela televisão acompanhei a visita do Papa Francisco a Portugal. Com fé e muita alegria interior. Mas, também, com muita vontade e muita esperança que esta visita mostrasse ao mundo aquilo que o mundo não sabe ou já esqueceu – Portugal é capaz, Portugal sabe- até porque já fomos donos de meio mundo.

Dizer que fiquei satisfeito, contente e orgulhoso era o mínimo que se podia exigir-me. Mas não digo. Digo, enquanto crente que fiquei orgulhoso. Digo, enquanto católico praticante que fiquei muito feliz com o sucesso inquestionável da visita do Papa.
Mas vi outras realidades que não devia ter visto.

Vi uma classe política, dirigente, empresarial do “faz de conta”, nomeadamente, no Centro Cultural de Belém -CCB-.
O discurso do Papa aqui, foi, na minha opinião, a critica mais forte, sólida e objectiva que se pode fazer a todos os que acham que são “os donos disto tudo”. Pela clareza, pela frontalidade e pela necessidade urgente de dizer as verdades tal como são.

De facto, hoje, aquele discurso faz todo o sentido e merecia ter sido ouvido por quem o entendesse e, depois, o pusesse em prática. Mas não por aquela gente. Que o entendeu, que o ouviu e que, do alto da sua vaidade balofa, da sua covardia intelectual e do seu cinismo militante bateu muitas palmas “à moda da Coreia” mas disse “baixinho” isto não é para mim.
A maioria dos que ali estavam gostam mais de ouvir as “Lagardes” os “ Centenos” e outros que tais. Mas se há quem tenha dúvidas veja os carros que os transportaram para ouvir o Papa e veja o carro que transportou o Papa. Para aquela gente é o carro que dá estatuto e não o contrário. É que enquanto o Papa defendeu a dignidade dos mais desfavorecidos aquela plateia defende o aumento “escandaloso e criminoso” dos juros dos grupos económicos nacionais, europeus e mundiais. Enfim, diferenças.
Esteve bem o Bloco de Esquerda “BE”. Foi coerente e não cínico.

Neste discurso o Papa foi e teve de ser, mais uma vez, a voz dos que não são ouvidos e dos que nunca são tidos em conta. Foi a mão amiga e solidária que nós precisamos sentir no ombro ao longo da caminhada que é a nossa vida. Foi a voz forte e clara que se ouviu em defesa do Interior e dos que lá vivem já que os governantes e dirigentes se esquecem completamente que nos 70% do território nacional ainda vive lá gente. Digna. Honrada. Trabalhadora. Solidária. Mas que não tem voz. Esteve bem, Sua Eminência, o Cardeal D. Tolentino, na ajuda que deu ao Papa Francisco. Naturalmente que com este discurso o Papa nunca seria levado ao Interior. Mas podia vir. Aqui, pelo menos, não via bairros, aldeias, vilas ou cidades Serafina. Claro que se viesse nunca seria acompanhado por aquela “casta” de parolos engravatados que, sem GPS, nunca cá chegariam.

Depois de ouvir aquele discurso que encheu o coração de milhões de crentes e católicos o Papa só podia querer ir ao Bairro da Serafina- às portas de Lisboa – E foi. Mas a tal elite do CCB não foi. Pudera. Aquilo que viu o mundo todo e o Papa é a prova (que faltava) da sua incompetência, do seu desprezo pelos simples e humildes e é a vergonha dos que governam este país há 49 anos. Muitos dos quais tinham estado com o Papa no CCB. É verdade. O Papa foi ver uma das (muitas) misérias e vergonhas de Portugal. Eu e muitos que vivêmos no Interior ficámos a saber (sem querer) que, afinal, nós somos uns ricaços e uns felizardos.

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