1 - Migrações, grandezas e misérias dum país de heróis, de santos... e de outros
Já não há como ignorar que é redutora e completamente desajustada da realidade atual a estratégia que Portugal tem seguido na abordagem aos fluxos e às vagas migratórias que, depois de se tornaram num fenómeno a nível global, fizeram cair por terra todas as teorias e princípios que as inspiraram e nortearam durante séculos a fio.
Com a atual facilidade de deslocação das pessoas de e para todas as latitudes e a estonteante rapidez com que se manipula e se difunde a informação, a dimensão deste imenso mundo em que vivemos ficou reduzida às medidas duma pequena ilha, ao alcance de todos, sem segredos nem mistérios, qual paraíso edénico, capaz de realizar os sonhos e as ilusões de milhões de pessoas para onde, ignorando os imprevistos, os riscos e os perigos de aventuras mal planeadas, não raro vitimas das redes criminosas de fomento à emigração ilegal que os exploram escandalosamente, emigram cada vez em maior número e para mais destinos, com as consequências dramáticas sobejamente conhecidas.
A situação do atual fenómeno migratório atingiu uma dimensão tal que, se não forem tomadas medidas urgentes, sérias e eficazes nos países, tanto nos destinos de origem como nos de destino mais procurados pelos migrantes, mais depressa do que se possa pensar, a situação pode ficar fora de controle e descambar para reações perigosas de racismo e de xenofobia que nada justifica e ninguém deseja em pleno século vinte, cujas consequências sociais, políticas e económicas, difíceis de prever e de quantificar, poderão por em sério risco o presente e o futuro das gerações vindouras.
No que concretamente diz respeito à política migratória do nosso país, em consequência do imobilismo, do desleixo e da maneira incompetente e totalmente errada como tem vindo a ser encarado o difícil e complexo problema da aceitação e integração de imigrante, a substituição do SEF, pela agência fantasma AIMA, acabou por piorar ainda mais as coisas, acabando por confirmar que a situação de degradação em que este se encontrava, era tudo menos brilhante.
Lamentavelmente para nós, Portugal, que no tema das migrações era considerado na União Europeia como um exemplo a seguir, acabou por se transformar numa preocupação, situação que, a não ser corrigida rápidamente, poderá acarretar para o país enormes penalizações, como a descida para a lista vermelha dos incumpridores do tratado de Schengen, podendo daí resultarem sérias limitações à livre circulação de pessoas e bens em todo o espaço Schengen, com os consequentes prejuízos em áreas vitais para a economia do país, tais como as exportações, o turismo, a cultura e a livre circulação de pessoas e bens.