2025: os valores, a esperança e os fantasmas
No início de um novo ano, é costume proclamar os votos universalmente desejados: «próspero e feliz Ano Novo». O cristianismo católico orgulha-se de manifestar esse desejo mesmo para com os que não são católicos, na esperança de que estes passem a aceitar os cristãos católicos como iguais e vice-versa.
A esperança é assim o elemento que une as religiões e as civilizações dos homens de boa vontade (Francisco, Fratteli Tutti) já que para ser irmão é necessário reconhecer a humanidade e a divindade no diferente, mesmo que o diferente realize a substância da maldade como face oposta à da bondade do Deus ao Qual atribuímos todos os atributos de superioridade infinita.
Vista assim a religião como portadora da face do bem e da face do mal para as colocar em confronto, não admira que a esperança num 2025 próspero, feliz e irmanado encarne as qualidades do optimismo, de um lado, e as do pessimismo, do outro. O optimismo como portador e disseminador da esperança e o pessismismo como portador e disseminador do medo e da descrença.
O nosso mundo, o do Planeta Terra e dos «terráqueos» é animado pela esperança dos cristãos católicos e, provavelmente dos prosélitos de outras religiões de boa vontade, num futuro melhor, capaz mesmo de vencer os fantasmas.
Os fantasmas a que me refiro são os da nossa imaginação e os reais. Os da nossa imaginação derivam das nossas carências e medos. Os reais são constituídos pelos problemas que enfrentamos (insegurança, falta de habitação, desemprego, custo de vida, carências estruturais da nossa comunidade e do nosso país, instabilidade geopolítica entre blocos político-económico-militares).
De facto, não vivemos só na nossa comunidade ou no nosso país. Vivemos também, e cada vez mais sobretudo, a nível de blocos político-económico-militares que condicionam os países e, até, as grandes organizações de países. É por isso que a guerra Rússia-Ucrânia nos aflige tanto e a perspectiva de uma guerra sino-americana nos angustia bem como as incoerências da guerra entre os países da Liga Árabe e Israel.
Depois, os fantasmas do desempego, da habitação, do custo de vida, da insegurança, da falta de planeamento do futuro e, agora, da falência do Estado (no caso dos cinco milhões de pessoas que dele vivem, sem trabalhar) constituem um grupo de fantasmas que perturbam a nossa tranquilidade e a nossa paz.
E, mesmo assim, apesar de todos estes apoios do Estado, ainda temos 20% de pobres, sobretudo entre os idosos e as crianças, mas 40% destes 20% são trabalhadores que, no conjunto do rendimento familiar, não têm um rendimento mensal per capita superior a 526 euros, quantitativo que não constitui, de forma nenhuma, um valor real suficiente para sobreviver com dignidade.
É neste contexto complexo que, apesar de tudo, construímos a esperança no futuro. Oxalá que em 2025 possamos aumentar a esperança.