A opinião de ...

Só se lembram agora

Os Jogos Olímpicos, aquele que é o maior evento desportivo mundial, são uma oportunidade única para os nossos atletas se tornarem conhecidos do grande público nacional quando neles se encontram a participar.
Até aí, pouco ou nada se lhes conhece pois, durante os anos de preparação, de esforço quotidiano, quase ninguém se lembra deles, de indagar o que estão a fazer, como estão a fazer, que apoios necessitam, quais os incentivos da sociedade para terem condições de nos representarem, etc.
Podemos mesmo imaginar, na permanente sombra mediática, a sua solidão e o seu sofrimento pelos sempre parcos recursos e apoios financeiros, quer do Estado, quer das Federações, quer dos clubes, quer das empresas, quando comparados com os seus competidores de outras nacionalidades.
Iniciadas as Olimpíadas, como que em despertar bipolar, começa-se a exigência de prestações brilhantes, máximas, de obtenção de medalhas, em competições onde “só” se encontram selecionados e a competir os melhores dos melhores do mundo e onde participar é já mesmo uma vitória.
Contudo, nos Jogos Olímpicos, como na vida, já tivemos grandes histórias de superação, também de orgulho, além de deceções e fracassos desportivos que despedaçam os sonhos do labor, da entrega e dedicação diária, dos quatro anos anteriores.
Esta 33.ª edição não fugirá a esta regra.
Em qualquer caso, mesmo não se lembrando deles em geral no período dos 4 anos que medeia a realização desta competição internacional especial, os atletas jamais competem sozinhos.
Estão sob o acompanhamento e a orientação dos seus treinadores, do carinho e atenção das suas famílias, das esposas, dos maridos, dos filhos, dos seus entes próximos, dos amigos, das suas terras, dos que estão sempre ali, principalmente quando o mundo lhe vem abaixo, quando recebem o resultado de que desta vez não lhes foi possível vencer.
Faz sentido então que nós saibamos, ao menos por estes dias, ter uma atitude correspondente à verdadeira cultura desportiva, fugindo do espectro dualístico e maniqueísta de que, se conseguirem realizar uma prestação magnífica, obtendo medalhas, especialmente a de ouro, serão lembrados e colocados no Olimpo dos Deuses mediáticos e, por outro lado, se não obtiverem nenhuma medalha serão votados novamente ao esquecimento, ao ostracismo ou, em alguns casos mesmo, à humilhação pela sua prestação menos positiva.
Não se trata de desculpar insucessos, mas de valorizar quem faz por realizar o espírito olímpico, de mais alto, mais rápido, mais forte, em superação, mesmo não o conseguindo. A glória olímpica também é para todos eles.

Edição
3997

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