A opinião de ...

Príncipe (e a dobra das calças)

As eleições para a Federação de Bragança do Partido Socialista foram ganhas, folgadamente, pelo José Mota Andrade. As diferentes visões, opiniões e opções políticas nunca interferiram numa relação amistosa de várias dezenas de anos. Não seria isso, só por si, suficiente para me referir ao evento, nestas páginas que, com regularidade escrevo. As eleições brigantinas do PS tiveram um motivo adicional relevante: a carta que o mandatário deste candidato enviou a todos os militantes nordestinos.
Lembrando-me um memorável discurso de tomada de posse em 1997, Artur Pimentel dirige-se aos seus correlegionários com elegância, humanidade, elevação e sentido de missão, lembrando que a política pode e deve ser exercida com dignidade, verdade e reconhecimento solidário.
Episódios como este mostram quão iníqua e lesiva dos interesses das populações nordestinas é a atual lei eleitoral de limitação de mandatos. Que me desculpem os outros autarcas conterrâneos mas não vislumbro no atual panorama figura com a proeminência do ex-presidente da Câmara de Vila Flor. Dir-se-á que nenhum tem, nem poderá ter, a experiência acumulada do autarca do município da Flor de Liz. Mas isso não chega. Lembro que em 1995, após as eleições legislativas ganhas pelo seu partido, alguns colegas seus quiseram induzi-lo a promover alterações de cariz partidário numa associação onde a Câmara participava. Pimentel opôs-se alegando que para lá dos interesses partidários, para lá dos interesses pessoais de amigos e correlegionários, estava o interesse público e que a manutenção do status quo teria maior valia para o seu concelho que a sua alteração.
Foram dezenas de gestos como este que o elevaram à categoria de príncipe da política transmontana. Onde, infelizmente, não se vislumbram seguidores. Vejo muitos que escudados no serviço público vão tratando da sua vida, da sua carreira, do seu bem-estar. Haverá até, garantem-me, quem, para fazer um favor ou responder a um anseio de um colega vizinho seja capaz de descuidar os interesses municipais. Situação que se alcandora aos antípodas raiando a traição aos que neles depositaram a confiança para gerir, em seu nome, os destinos comuns.
 
Hoje, 11 de Setembro, na Biblioteca Municipal Almeida Garret, Clara Ferreira Alves, em homenagem a Vasco Graça Moura citava um poema de T.S.Eliott “I grow old... I grow old... / I shall wear the bottoms of my trousers rolled” aludindo ao facto de com a idade irmos envelhecendo e diminuindo de tamanho o que obriga a que seja necessário dobrar a parte de baixo das calças.
 
É este o meu lamento. Que em Vila Flor, por causa de uma lei iníqua não seja possível ter na Câmara Municipal um Príncipe que, apesar da sua grande dimensão, fosse, ano após ano, enrolando a parte de baixo das calças!

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