A opinião de ...

O 25 de abril

Não se compreende falar do mês de abril sem referir o “25 de Abril”, dia da Revolução de 1974, em Portugal, que nos permitiu transitar duma situação de ditadura para uma de democracia.
Muitos de nós vivemos a ditadura, na qual a censura nos era grandemente imposta, assim como escamoteada muita informação, enquanto, no dia a dia, ambicionávamos a liberdade de expor as nossas ideias, bem como a sua concretização.
É por isso que, vivendo em democracia, fomos livres de utilizar os meios que nos levaram a grandes e boas decisões, valorizando, em contrapartida, outros meios que nos colocaram em situações ingratas, dificilmente resolúveis com as quais convivemos.
Além disso, parece-me comumente aceite que a liberdade de opinião, ao longo destes cinquenta anos, fez nascer e perdurar antagonismos políticos, enquanto foram sendo formados grupos, melhor dizendo, partidos, que em vez de convergirem com as suas ideias para bem conduzir a política e a melhor forma de governar, cada vez mais foram abrindo e reforçando “trincheiras” para se defenderem de qualquer ataque da parte de quem tinha (e continua a ter) ideias diferentes – situação mais que evidente, porque, como os mesmos sabem, onde há duas pessoas, há ideias diferentes. É também verdade que, porque não há vontade de eliminar arestas, vão seguindo por caminhos paralelos, não aceitando ideias recíprocas; e em vez de convergirem para uma boa solução, não mais haverá entendimento entre eles, com prejuízo para o país.
Relativamente aos benefícios que colhemos da liberdade, é bom recordar, entre outros, a voz que foi dada ao povo para escolher um Governo que governasse para o bem de todos, a abertura do diálogo e da interação com o mundo, (até então restringidos), a celebração do “1.º de Maio”, Dia do Trabalhador, o direito à greve, a livre criação de sindicatos, a interação da Escola com as Associações de Pais e Encarregados de Educação, a Comunidade e as Autarquias, a eliminação da censura na comunicação social, o levantamento da proibição da publicação de livros com conteúdo considerado crítico sobre as orientações do Governo, o melhoramento das condições de vida de muitos portugueses, a igualdade de acesso à cultura e serviços administrativos, a separação da Igreja do Estado, com a consequente liberdade religiosa, a eliminação do livro único no ensino, permitindo que cada escola e cada agrupamento de escolas, pudessem escolher os manuais mais convenientes a cada região onde estivessem implantados, o levantamento da proibição de reuniões com grande número de participantes, o melhoramento das condições de trabalho, o incentivo ao empreendedorismo, a eliminação de organizações paramilitares, como a Legião Portuguesa, e ainda a descolonização.
Sendo os portugueses, sob ditadura, os últimos a reivindicar os territórios que colonizaram, ainda tentaram, “orgulhosamente sós”, fazer deles parte integrante de Portugal, depois de terem achado por bem considerá-los províncias ultramarinas. Contudo, após o levantamento da respetiva população e do inaudito massacre de colonos que levaram a uma guerra de 13 anos, (na qual milhares de combatentes perderam a vida e outros ficaram feridos para sempre), foi a democracia nascida no “25 de Abril” que negociou a independência com cada um deles.
Neste ano de 2024 em que o “25 de Abril” perfaz 50 anos, é de todo dignificante e merecedora a sua celebração, nunca deixando de recordar os heróis que enfrentaram e venceram uma ditadura tão desacreditada quanto repressiva e odiada.

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3983

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